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A questão Palestina e os desafios contemporâneos dos refugiados

Ao olhar para o futuro, sonho com o dia em que possamos viver em paz, sem precisar justificar nossa existência ou mendigar por reconhecimento.


Por Faysa Daud (*)


Ato em São Paulo pró-Palestina - Foto Rovena Rosa/Agência Brasil 

Como palestina, não consigo olhar para o que acontece em Gaza e no restante da Palestina apenas como espectadora de um conflito distante. Carrego em mim a memória de um povo que, ao longo de décadas, tem buscado algo tão básico e, ao mesmo tempo, tão profundo: o direito de viver com dignidade, liberdade e reconhecimento.


Recentemente, em Nova York, acompanhamos um movimento importante: o reconhecimento do Estado da Palestina por parte de muitos países. Para mim, esse gesto não é apenas um ato diplomático, mas um marco simbólico. Ele representa a validação da identidade e da existência de milhões de palestinos. Reconhecer a Palestina como Estado é reconhecer que temos direito a uma história, a um território e, sobretudo, a um futuro.


Vale lembrar que, em julho deste ano, um documento que marcou o encerramento de uma conferência internacional na sede das Nações Unidas obteve 142 votos favoráveis, 10 contra e 12 abstenções. Esse roteiro incluiu pontos fundamentais: o cessar-fogo imediato em Gaza, a libertação de todos os reféns e a criação de um Estado palestino viável e soberano. Para mim, essa deliberação demonstra não apenas uma vontade política crescente, mas também a consciência de que o equilíbrio global depende de uma solução justa e duradoura para a questão palestina.


Entretanto, a realidade em Gaza nos lembra diariamente que o caminho ainda é longo. O sofrimento de milhares de famílias, os deslocamentos forçados e a perda contínua de vidas revelam que a luta pela paz ainda está distante de ser alcançada. Esse sofrimento não se restringe às fronteiras da região. Ele ecoa nas comunidades palestinas espalhadas pelo mundo, inclusive no Brasil, onde muitas famílias vivem como refugiadas, tentando reconstruir suas vidas em meio à saudade da terra natal.


No Brasil, temos testemunhado, através do trabalho árduo da nossa Ong Refúgio Brasil e da Fepal, a força e a resiliência dos refugiados. Eles não são apenas sobreviventes de um processo histórico marcado pela dor, mas também agentes de reconstrução. Acolhê-los dignamente é um compromisso que vai além da solidariedade: é a reafirmação da humanidade que nos conecta a todos.


A Jordânia, meu país natal e país vizinho da Palestina, tem um papel essencial nessa história. Ao abrigar, há décadas, um grande contingente de refugiados palestinos, demonstra ao mundo que a responsabilidade humanitária deve caminhar junto com a busca por soluções políticas justas e sustentáveis. Esse exemplo me faz refletir sobre a importância da cooperação regional e internacional para que a Palestina seja vista não como um problema insolúvel, mas como uma parte vital do caminho para a paz no Oriente Médio.


Acredito que apoiar a autonomia palestina e reconhecer a legitimidade de seu Estado não é uma posição de confronto. Pelo contrário, é um passo em direção a soluções que podem beneficiar não apenas os palestinos, mas a humanidade em geral. Um mundo que se abre ao diálogo e reconhece a dignidade dos povos é um mundo mais estável e mais humano.


Falar sobre a Palestina é, para mim, falar sobre justiça e sobre esperança. Não se trata apenas de um debate geopolítico, mas de uma questão ética e civilizatória. Ao olhar para o futuro, sonho com o dia em que possamos viver em paz, sem precisar justificar nossa existência ou mendigar por reconhecimento.


Sei que a paz no Oriente Médio não será plena sem justiça para o povo palestino. E também sei que, sem justiça, nenhum de nós poderá experimentar uma paz verdadeira.


(*) Segue abaixo o mesmo texto, em escrita árabe, com tradução feita pela própria autora. Faysa Daud é Fundadora e Presidente da Ong “Refúgio Brasil”, onde ocupa o cargo de Coordenadora do Socorro a Refugiados


Faysa Daud


القضية الفلسطينية وتحديات اللاجئين المعاصرين


بقلم: فايزة داود


بوصفي فلسطينية، لا أستطيع أن أنظر إلى ما يحدث في غزة وبقية فلسطين كمتفرجة على صراع بعيد. أحمل في داخلي ذاكرة شعبٍ، وعلى امتداد عقود طويلة، ما زال يسعى وراء شيء في غاية البساطة وعمق الدلالة في آن واحد: الحق في العيش بكرامة وحرية واعتراف.


مؤخرًا، شهدنا في نيويورك خطوة مهمة: اعتراف العديد من الدول بدولة فلسطين. بالنسبة لي، لا يعدّ هذا مجرد عمل دبلوماسي، بل هو حدث رمزي كبير. إنه يمثل إقرارًا بهوية ووجود ملايين الفلسطينيين. الاعتراف بفلسطين كدولة هو الاعتراف بحقنا في تاريخ وأرض، وقبل كل شيء في مستقبل.


ومن الجدير بالذكر أنه في يوليو من هذا العام، حصل وثيقة صادرة عن مؤتمر دولي عُقد في مقر الأمم المتحدة على 142 صوتًا مؤيدًا، و10 أصوات معارضة، و12 امتناعًا عن التصويت. وقد شمل هذا المسار نقاطًا أساسية: وقف إطلاق النار الفوري في غزة، الإفراج عن جميع الأسرى، وإنشاء دولة فلسطينية قابلة للحياة وذات سيادة. أرى في هذا القرار ليس فقط إرادة سياسية متنامية، بل أيضًا وعيًا بأن التوازن العالمي يعتمد على حل عادل ودائم للقضية الفلسطينية.


ومع ذلك، تذكّرنا الوقائع اليومية في غزة بأن الطريق لا يزال طويلاً. إن معاناة آلاف العائلات، وعمليات النزوح القسري، وفقدان الأرواح المستمر، تكشف أن النضال من أجل السلام ما زال بعيد المنال. وهذه المعاناة لا تقتصر على حدود المنطقة، بل تتردد أصداؤها في المجتمعات الفلسطينية المنتشرة في أنحاء العالم، ومنها البرازيل، حيث تحاول العديد من العائلات اللاجئة إعادة بناء حياتها وسط حنين لا ينقطع إلى أرض الوطن.


في البرازيل، شهدنا من خلال عمل منظمتنا “ملجأ البرازيل” (Ong Refúgio Brasil) والاتحاد الفدرالي الفلسطيني (Fepal) قوة اللاجئين وصلابتهم. فهم ليسوا مجرد ناجين من عملية تاريخية مليئة بالألم، بل هم أيضًا فاعلون في عملية إعادة البناء. إن استقبالهم بكرامة ليس مجرد فعل تضامني، بل هو تجديد للتأكيد على إنسانيتنا المشتركة التي توحدنا جميعًا.


أما الأردن، بلدي الأم والدولة المجاورة لفلسطين، فيؤدي دورًا جوهريًا في هذه القصة. فباستضافته منذ عقود لعدد كبير من اللاجئين الفلسطينيين، يقدم للعالم مثالًا على أن المسؤولية الإنسانية يجب أن تسير جنبًا إلى جنب مع السعي نحو حلول سياسية عادلة ومستدامة. وهذا المثال يدفعني للتفكير في أهمية التعاون الإقليمي والدولي لكي تُرى فلسطين لا باعتبارها مشكلة مستعصية، بل كجزء أساسي من طريق السلام في الشرق الأوسط.


إنني أؤمن بأن دعم استقلالية فلسطين والاعتراف بشرعية دولتها لا يشكل موقف مواجهة، بل على العكس، هو خطوة نحو حلول يمكن أن تفيد ليس الفلسطينيين وحدهم، بل الإنسانية جمعاء. إن عالمًا ينفتح على الحوار ويعترف بكرامة الشعوب هو عالم أكثر استقرارًا وأكثر إنسانية.


الحديث عن فلسطين هو بالنسبة لي حديث عن العدالة والأمل. فهو ليس مجرد نقاش جيوسياسي، بل قضية أخلاقية وحضارية. وعندما أنظر إلى المستقبل، أحلم باليوم الذي نعيش فيه بسلام، دون الحاجة إلى تبرير وجودنا أو استجداء الاعتراف بنا.


أعلم أن السلام في الشرق الأوسط لن يكتمل من دون عدالة للشعب الفلسطيني. وأعلم أيضًا أنه من دون عدالة، لن يعرف أيّ منا طعم السلام الحقيقي.


  

 

 


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