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Mãe e filha: a vida com mais dignidade após morar 20 anos em uma ocupação irregular, em Bertioga

Tudo mudou ao sair da área ocupada irregularmente para os apartamentos do programa iniciado no 2º mandato do Governo Lula 


Por Aristides Barros



Ivanete - uma mulher de fibra

As vidas da mãe, a aposentada Ivanete Gonçalves da Silva, 62 anos, e de sua filha, a faxineira Miriam Gonçalves da Silva, 43 anos, se somam a de milhares de famílias brasileiras saídas de áreas de risco e impasses fundiários para a segurança de casas e apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida, iniciado ainda no segundo mandato do presidente Lula, que cumpre seu terceiro mandato na Presidência da República.


Ivanete mora no apartamento do andar térreo do Bloco 12 e Miriam mora no “apê” que fica no quarto andar do Bloco 9. A mãe foi a primeira a ser sorteada para o local que mudou 180 graus o seu modo de vida. Uma semana depois foi a vez da filha e elas já moram há dois anos no Condomínio Flamboyant, no Conjunto Habitacional “Caminho das Árvores”, localizado no Jardim Rafael, em Bertioga.  


Mãe e filha, moraram durante 20 anos numa área ocupada irregularmente no bairro de Boracéia e ambas concordam no relato. “Tudo era muito difícil”. Ivanete fala pouco da época. Hoje aparenta preocupação com a doença que “foi e voltou”. Ela passou por uma cirurgia para extrair um câncer no pescoço. 


A operação foi um sucesso, mas a doença parece perseguir a aposentada e retornou. “Deus vai ajudar e ela vai embora de vez”, afirma. “Assim como me ajudou a conseguir o apartamento”, diz com fé fervorosa. Negra forte, Ivanete mostra que não se deixa vencer.


Em meio a conversa convidou a reportagem para ver seu apartamento. Mostrou a sala, dois quartos, cozinha e banheiro. Na face a felicidade de ter um lugar pra chamar de seu. A aposentadoria é insuficiente para arcar com remédios, alimentação e as contas do apartamento (prestações e taxa de condomínio).


“Meus filhos me ajudam”, diz emanando amor, alegria, confiança e fé. Os sentimentos se espalham pelo apartamento da aposentada que tem sete filhas e dois filhos. “Eram oito filhas, uma faleceu”, fala com tristeza ao lembrar a perda. 


“A pobreza dá dois caminhos”


Ivanete com a filha Miriam e os netos

Miriam, a filha da aposentada é outra guerreira. Mãe solo, tem oito filhos, seis crianças pequenas moram com ela e dois - uma adolescente e outro adulto - já bateram asas. Ela sustenta a família fazendo limpeza nas casas de outras famílias. O que ganha nas faxinas é insuficiente para manter a criançada.


Tem de comprar a alimentação, roupas e pagar outras necessidades do lar (prestações do apê e taxa de condomínio). A faxineira é beneficiária do Bolsa Família. "Ajuda bastante e se não tivesse isso seria mais difícil”, reconhece.


Diferente da mãe, ela “conta a vida antiga” na ocupação. “Faltava tudo água, esgoto, iluminação”, lembra. “Quando você mora assim te olham de outro jeito”, falou sem citar a palavra discriminação, que é o preconceito com que muitos enxergam o povo que é empurrado para condições extremas de sobrevivência.


E o preconceito segue nas vozes dos que dizem que a pessoa sai da favela mas a favela não sai da pessoa. “Que falem! o importante é ser feliz”.  


“A pobreza fortalece e te obriga a buscar o melhor”, comentou Miriam sem deixar de citar que tem gente que vai buscar, mas do jeito errado. “Conseguimos do jeito certo e somos felizes. Tudo mudou, as minhas crianças estão num lugar seguro, tranquilo, o ambiente é bom. Vivemos com mais dignidade e dá pra pensar num futuro melhor pra elas”, concluiu a mãe.


Da ocupação irregular em Boracéia mãe e filha além de um endereço e uma vida bem melhor tem a dignidade que é direito de todos, não podendo ser negado a nenhum ser humano.   


Minha Casa. Minha Vida


A família vive na imensidão de prédios 

Segundo o Instituto Lula, o programa Minha Casa, Minha Vida, lançado em 2009, transformou o sonho da casa própria em realidade. O maior programa habitacional da história do Brasil foi considerado pela ONU como “um exemplo para o mundo”. O Minha Casa, Minha Vida contratou 4,2 milhões de casas e apartamentos e entregou 2,7 milhões de imóveis em todo o país até abril de 2016, último mês de governo da presidenta Dilma Rousseff. 


Os 10 milhões de brasileiros beneficiados só com as casas entregues até 2016 é o equivalente à soma de toda a população das cidades do Rio de Janeiro e de Salvador. Praticamente metade dessas moradias atendeu famílias com renda de até R$ 1,8 mil, a chamada Faixa 1 do programa. Isso só foi possível porque os governos petistas reconheceram que parte expressiva da população não consegue acessar um financiamento tradicional nos bancos. E subsidiou essas habitações.

 

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