sábado, 28 de dezembro de 2019

PERSISTE TRABALHO DEGRADANTE NA GARAGEM MUNICIPAL DE BERTIOGA

Já faz um ano o Sindicato dos Servidores acionou o MPT que move ação civil pública contra a prefeitura mas a situação só piora, denunciam os funcionários



Há um ano que o MPT (Ministério Público do Trabalho) ordenou por meio de um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) que a Prefeitura de Bertioga executasse melhorias na estrutura da Garagem Municipal de Bertioga, e até agora a administração não cumpriu a ordem dada.

O episódio rendeu uma ação civil pública proposta pelo MPT contra a prefeitura. A denúncia foi levada à Justiça pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Bertioga.

A proposta defendida pelo MPT visa tirar os cerca de 50 funcionários do local das condições de trabalho degradante, situação reconhecida pela equipe do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, que em dezembro de 2018 vistoriou a garagem, e ao sair de lá deixou deixou uma lista de serviços que não foram realizados pela prefeitura.

Na época, o MPT foi ao local acionado pelo Sindicato do Servidores Públicos Municipais de Bertioga que soube do caso via jornalistas, que denunciaram em reportagem a situação da garagem e dos integrantes da categoria.

A atuação da Imprensa, do Sindicato e MPT não surtiu o efeito esperado pelos funcionários e sequer fez a prefeitura bertioguense mover uma palha para sanar os problemas.

Isso de acordo com afirmações de funcionários que, em coro, disparam. "A situação está cada vez pior". O nome deles fica sob sigilo para evitar que sofram retaliações. "O Ministério Público veio e nada mudou", disse. "Continua a mesma coisa", completou outro servidor.

PERIGO - Em abril deste ano foi relatado que houve um princípio de incêndio que teria sido motivado pela instalação elétrica deteriorada. 

O incidente começou no ar condicionado instalado no barracão de madeira. Uma guarnição do Corpo de Bombeiros foi chamada e impediu que o fogo se alastrasse, ninguém ficou ferido.

O princípio de incêndio aconteceu à noite quando não havia ninguém na garagem, sendo que moradores vizinhos ao local é que teriam acionado o Corpo de Bombeiros.

No incêndio relatado um funcionário vê o mau presságio ao revelar que os carros locados pela prefeitura são abastecidos na Garagem Municipal. 

"Os caminhões tanques abastecem e muito combustível cai no chão. O solo já deve estar todo contaminado", diz. A ressalva é que o local além de contornado por áreas verdes fica próximo à Praia do Indaiá.

"Há anos não recebemos equipamentos de segurança pessoal para trabalharmos. O esgoto está entupido e o banheiro onde tomamos banho fica alagado. Nossa situação é péssima", resumiu. 

Além de funcionários da prefeitura, a garagem abriga funcionários de empresas que prestam serviço para a administração municipal.

"Tem um galpão que está prestes a cair, é que a obra não foi concluída", disse evidenciando que o risco de tragédias anunciadas faz parte da rotina do trabalho degradante.

O presidente do Sindicato do Servidores de Bertioga, Jorge Guimarães dos Santos, o Jorjão, disse que deve voltar a conversar com o MPT para ver a posição do órgão sobre o caso.

O site Efeito Letal entrou em contato nesta sexta-feira (20) com o MPT, em Santos, e foi informado que os funcionários entraram em recesso de fim de ano.

Também na sexta feira, a reportagem contatou a Prefeitura de Bertioga indagando a administração municipal sobre o caso, mas o governo não se manifestou.

DEGRADAÇÃO - Em dezembro de 2018 o próprio MPT considerou degradante a condição dos servidores públicos alocados na Garagem Municipal de Bertioga.

Na vistoria da equipe enviada foi órgão constatado que as instalações não possuem "mínimas garantias" de saúde e de segurança aos funcionários.

O local não possui informações sobre programa de prevenção de riscos ambientais e o não cumprimento do programa do controle médico ocupacional. Não há um programa de gerenciamento de resíduos sólidos e de resíduos dos serviços de saúde.

O TAC lembrou que os trabalhadores precisam de "uma existência digna, conforme os ditames da Justiça Social, observada a defesa do meio-ambiente; o direito ao meio equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida".

O termo pedia que a prefeitura fizesse reparos em vestiários, banheiros, no sistema elétrico, providenciasse extintores de incêndio. O documento solicitava a higienização de todos os ambientes na garagem.

MORTE QUE SEGUE - PACIENTES CONTINUAM A SAIR DO HOSPITAL DIRETO PARA O CEMITÉRIO DE BERTIOGA

Num espaço de sete dias duas jovens morrem após passar pelo Hospital de Bertioga que 'distribui' dor e sofrimento às famílias bertioguenses, a Justiça vai ser acionada


O fim de ano das famílias de Valdiceia Conceição da Silva e Stefany de Oliveira da Silva está sendo marcado pela dor da ausência devido as mortes de ambas as jovens, que tinham pouco mais de 20 anos.

Os dois casos têm pontos semelhantes principiados pela internação delas no Hospital Municipal de Bertioga, cujos serviços são gerenciados pela organização social INTS (Instituto Nacional de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Gestão Pública).


Maior que o pomposo nome do instituto é o valor do contrato que ele tem com a Prefeitura de Bertioga, R$ 3 milhões/mês que ao ano somam R$ 36 milhões, dinheiro público desembolsado para que a empresa cuide da saúde dos bertioguenses, usuários do hospital.


Porém, o INTS não tem correspondido ao trabalho se levado em conta a série de reclamações de mau atendimento no hospital em casos simples e outros graves, como nas acusações de negligência denunciadas pelos familiares de Valdiceia e Stefany.


Valdiceia morreu no dia 7 de dezembro e uma semana depois, 14 de dezembro, foi a vez de Stefany sair do leito do hospital para uma sepultura na quadra 3 do Cemitério de Bertioga.


Ainda abalada pelo ocorrido com a filha, a mãe de Stefany, a diarista Sandra Mendes da Silva, 49 anos, acusa o hospital de negligência e diz que levará o caso à Justiça. Quer punir as pessoas que "deixaram sua filha morrer". desabafa a mulher.


"Não vou me calar. Tudo o que eles precisam é do silêncio para continuar destruindo famílias. É preciso fazer algo porque senão as pessoas vão continuar morrendo sem a devida assistência. Vou onde for preciso para denunciar o que aconteceu com a minha filha. Deus sabe o que estou passando", disse atordoada.


Sandrá já tem um advogado e colhe documentos necessários para acionar o Hospital da Bertioga na Justiça. Caso ocorra a ação, o processo deve ser dividido entre o INTS e a Prefeitura de Bertioga, ambos os responsáveis pela unidade de saúde.


A mãe revelou que há oito meses levava a filha a postos de saúde e ao hospital, porque ela tinha problemas de estômago. Por fim, Stefany ficou duas semanas internada no hospital, contou Sandra.

"Lá ela piorou e ninguém descobriu o problema. Então falaram que ela estava com Aids e depois sífilis. Mas até agora não sei do que realmente a minha filha morreu. Não me deram nenhuma informação", revelou a mãe.


TRANSFERÊNCIA TARDIA - Já com a saúde agravada, Stefany foi transferida para o Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, onde o médico ao ver as condições da paciente foi logo avisando a mãe. "Aqui não temos suporte para atender a sua filha, e ela já está muito mal´", contou Sandra.


A jovem ficou só uma noite no hospital paulistano e foi transferida para o Hospital Santo Amaro, em Guarujá, onde, segundo a mãe, os médicos informaram que a paciente já havia dado entrada no hospital em óbito. "Fui de Bertioga a São Paulo com a minha filha semimorta, e depois de São Paulo ao Guarujá com ela morta na ambulância", disse a mãe.


SEMELHANÇAS - O fim da vida de Stefany foi igual ao caso de Valdiceia, leia reportagem: https://www.efeitoletal.com.br/…/caminho-da-morte-jovem-ago…

A transferência de ambas as pacientes para outros hospitais aconteceu quando os médicos que as receberam já não podiam fazer mais nada pelas suas respectivas recuperações.


Em ambos os casos, o Hospital de Bertioga pode ficar "isento" de responder pelas mortes porque os óbitos são assinados nas unidades onde elas de fato foram constatadas. Valdiceia morreu em Santos, na Santa Casa de Misericórdia, Stefany morreu no Guarujá, no Hospital Santo Amaro.


Já no Hospital de Bertioga ninguém morre. Isso confirmaria a "presteza" do contrato do INTS com a prefeitura, pois as partes não são afetadas pelo acordo assinado em meados de abril de 2018. O que não aconteceu às famílias que passam pelo mesmo drama das duas jovens mortas.


Por coincidência, 2018 é o mesmo ano em que aumentaram os registros de óbitos nos hospitais para onde os pacientes de Bertioga são transferidos, já dando os últimos suspiros de vida. Tem quem acredite que a morte está sendo exportada.


O QUE DIZ A PREFEITURA


O site Efeito Letal indagou a administração municipal acerca do ocorrido com Stefany, frisando a semelhança do ocorrido com Valdiceia. As respostas seguem abaixo.


Questionada sobre qual doença afetou Stefany e que teria provocado sua morte foi respondido que: a paciente deu entrada com queixa e sintomas que culminaram no diagnóstico.


Em ambos os casos, Stefany e Valdiceia, foi indagado os motivos da demora na transferência que é feita quando outros hospitais já não têm mais condições de salvar os pacientes. Resposta: a transferência é realizada imediatamente quando a liberação de vagas no Cross é sinalizada via sistema.


Nos casos de Stefany e Valdiceia foi falado para as famílias que duas pacientes haviam contraído uma bactéria. O site perguntou qual bactéria afetou as duas pacientes. De acordo com o Hospital de Bertioga, os casos não estão correlacionados "a bactéria", são casos distintos com diagnósticos diferentes.


Sobre Stefany disseram a mãe da jovem que a paciente "estava com Aids e depois falaram que ela estava com sífilis". Ao que foi feita a pergunta. "O procedimento do 'chute' faz parte do protocolo do hospital de informar familiares sobre o que afeta a saúde dos pacientes?". O hospital disse que "a hipótese diagnosticada foi concluída após liberação do quadro clínico da paciente.


A mãe de Stefany e os familiares de Valdiceia acusam o hospital de negligência. O hospital se defende alegando que "toda a assistência foi prestada até o momento da transferência".


O Efeito Letal destacou que as mortes das duas jovens foram quase sequenciais, e o que a Prefeitura de Bertioga - por meio da Secretaria de Saúde - e o INTS podem conversar para evitar que outras tragédias iguais se repitam. A resposta robótica: diagnóstico e casos distintos e toda assistência prestada.


Finalizando foi perguntado à prefeitura se ela avalia que o contrato com o INTS, em função do serviço prestado pela empresa, está de acordo com a necessidade de manutenção da saúde e da vida dos bertioguenses que usam o hospital da cidade. A resposta. "O contrato é monitorado e avaliado conforme estabelecido em metas assistenciais e de qualidade"


EM TEMPO - Stefany foi transferida para o Hospital Emílio Ribas II, em Guarujá, e não em São Paulo, como foi erroneamente publicado na reportagem.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

CAMINHO DA MORTE - JOVEM AGONIZA EM BERTIOGA E É LEVADA PARA MORRER EM SANTOS


Demora na transferência de um hospital a outro revolta familiares, que denunciam negligência e maus tratos


O nome de Valdiceia Conceição da Silva, 21 anos de idade, aumenta o número de denúncias de mau atendimento contra o Hospital Municipal de Bertioga, gerenciado pela INTS, cujo valor milionário do contrato com a Prefeitura de Bertioga, faz que empresa e administração municipal se distanciem do serviço ansiado pela população da cidade e pelos parentes de pessoas que morrem dentro da unidade de saúde, ou na inevitável passagem por ela.

São R$ 3 milhões/mês o valor do contrato firmado entre a Prefeitura de Bertioga e o INTS (Instituto Nacional de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Gestão Pública), OSS (Organização Social de Saúde). A duração do contrato é de dois anos e até o término do mesmo, caso não ocorra nenhuma alteração, a empresa receberá dos cofres públicos de Bertioga R$ 72 milhões. A empresa foi contratada em meados de 2018.

O mau atendimento é denunciado pelos familiares da balconista Valdiceia Conceição da Silva, 21 anos, que junto a ela passaram quatro dias de horror no local até a balconista ser transferida para a Santa Casa de Misericórdia de Santos, onde morreu poucas horas após dar entrada na instituição médica. Ainda abalada, a família afirma que a morte aconteceu em função da demora na transferência da jovem para um local com melhores recursos.

Levada para o Hospital de Bertioga na segunda-feira (2), expelindo sangue pela boca ela permaneceu assim até a noite de sexta-feira (6) quando foi transferida para a Santa Casa de Santos, já com a saúde piorada. Em Santos os médicos logo que viram a situação da jovem anteciparam aos pais. "O estado dela é muito grave. Vocês têm de estar preparados”, disse Maria Souza da Conceição, 48 anos, mãe da balconista.

Ela acompanhou a filha na ambulância. “Deixamos ela na Santa Casa e assim que chegamos em Bertioga avisaram pra gente voltar, porque ela tinha morrido”, disse a mãe. O tempo todo com a filha, nos momentos críticos - do Hospital de Bertioga a Santa Casa - Maria só chorou.

AGONIA - Porém na conversa com a reportagem a dor foi deu lugar à revolta e as lágrimas foram substituídas por palavras de protestos e desmentidos que transtornou mais a família. Pela versão da Secretaria de Saúde de Bertioga foi dito que a Valdiceia chegou no hospital na quarta-feira (4).
 
“Levamos na segunda-feira, ela ficou no quarto de observação de segunda até terça. Na quarta quando piorou muito é que a levaram para o isolamento. Pedi para ficar com minha filha para ela não passar a noite sozinha. Me negaram isso, disseram que por ela ser maior de idade não era permitido acompanhante. Mas, uma enfermeira falou que iria providenciar. Fiquei com ela e depois a namorada dela também ficou. Eu não estava suportando mais ver o sofrimento da menina. Ela estava com muita falta de ar e vomitava muito sangue”, relatou a mãe. “O meu marido falou com o médico se não podiam transferir a menina pra uma clínica. Disseram que ela já estava sendo medicada e que iriam resolver o problema alí mesmo. Mas eles sabiam que ela ia morrer, estava muito mau. Eu não entendo porque não transferiram logo. Isso me dói muito. Eu perdi a minha filha”, contou Maria, que aniversariou no dia 10, três dias após a morte de Valdiceia.

FRIEZA - A mãe da balconista denunciou que foi destratada por um médico e por enfermeiras - que não soube identificar os nomes. “Eu poderia ter pego o nome dele pela receita quando indicou a medicação. Mas não fiz isso porque dizem que não pode fotografar nada dentro do hospital, senão faria com o celular”, disse Maria.

Ela revelou que a medicação se resumia em Dramim, Buscopan e soro. “As enfermeiras me viam e comentavam entre si ‘essa é a mulher daquele caso’. Todas sabiam o que estava acontecendo porque eu pedia ajuda pra todo mundo, estava desesperada. Todos sabiam, mas não ajudaram a minha filha e ela morreu”, lamentou Maria.

Sobre o médico a mãe relata a frieza. “Lembro ele dizendo que não podia fazer mais nada porque ela estava com sangue no pulmão e não podia tirar”.

Depois de tudo consumado, Maria recebeu o golpe final. “Entregaram para o meu filho a blusa dela cheia de sangue. Isso não se faz, devolver uma roupa cheia de sangue pra uma mãe. Quando vi a blusa dela daquele jeito me revoltou muito”, afirmou.

O pai, Vitor Santos da Silva, 55 anos, disse que não pretende acionar o hospital na Justiça, até antevendo que “amanhã pode precisar do mesmo hospital e isso pode atrapalhar”. Cauteloso, disse que se limitou a ir até o hospital e desabafar contra o que reiterou ter sido negligência do hospital.

O QUE DIZ A PREFEITURA
A reportagem do Efeito Letal contatou a Secretaria de Saúde de Bertioga, que por meio da assessoria de Imprensa da prefeitura, respondeu que: "Segundo o INTS, que gerencia o Hospital de Bertioga a paciente, esteve no (PA) Pronto Atendimento em dias de meses intercalados, os últimos atendimentos ocorrerão em 27/06, com queixas distintas do diagnóstico em (02.12 a 06.12).
No mês de outubro, dia 01, foi verificada uma passagem pelo PA com queixas de vômitos.
A paciente teve passagem com maiores queixas e sintomas no dia 02.12.
Foi observada a sua internação no dia 04.12, com diagnóstico de doença auto imune “Sìndrome GOODPASTURE”.
Devido ao agravamento do quadro clínico, a equipe médica solicitou vaga de leito de UTI através da Central de Regulação – CROSS às 11:29 do dia 06.12, após intensa busca e movimentação da equipe do INTS e Secretaria de Saúde a vaga foi cedida via sistema às 20:33.
Ressaltamos que o Hospital / Secretaria de Saúde não possui governabilidade nem acesso às vagas em aberto, de referência oferecida pelos serviços referenciados na Baixada Santista.
A paciente deu entrada no dia 02.12 às 15:34 onde foram feitos os atendimentos necessários, o que originou a internação no dia 04.12, devido a evolução do quadro clínico.
Em todos os atendimentos, os pertences são devolvidos ao responsável e/ou familiar, por ser protocolo do hospital".