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Afastado da prática mandatária, ex-vereador Silvio Magalhães fala sobre a política de Bertioga

Ele já disputou a prefeitura bertioguense e acompanha “de longe” tudo o que acontece na seara política da cidade

Por Aristides Barros (entrevista publicada em 12/05/25)

“A primeira coisa uma auditoria”, afirma ex-vereador

O empresário Silvio Magalhães foi vereador de Bertioga e por isso a reportagem o contatou para falar dos abalos políticos silenciosos da cidade neste início de governo do prefeito eleito Marcelo Vilares (União). Silvio disputou o comando da prefeitura por duas vezes.

Apesar de não ser mais dono de um mandato político há cinco anos, ele acompanha os acontecimentos da cidade, tanto que ao falar sugeriu que o título da matéria fosse “O valor de uma maquiagem”.

O chamado à entrevista decorre porque durante o seu curto mandato (2019 a 2020), sua voz era a única que alertava ao que hoje é uma realidade, a dívida atual de Bertioga está no valor de R$1.3 bilhão.

Ele passou de vereador suplente a titular na vacância de Pacífico Júnior, que deixou o cargo. Pela forte oposição ao governo anterior, Silvio foi taxado de ser um vereador que “só enchia o saco”.

“Ele enche o saco porque teme ver os cofres públicos vazios e o povo esvaziado de serviços essenciais”, diziam, em coro, os simpatizantes que acompanharam o seu curto e explosivo mandato.

Isolado à sua época na Câmara, hoje ele vê alguns parlamentares de seu tempo, que foram sequencialmente reeleitos, diante da cruz e da espada. Isso porque os votos favoráveis que outrora deram ao Executivo também ajudaram Bertioga a viver o atual momento.

Prefeitura está em situação financeira complicada

Efeito - Em função da alta dívida, os comentários são de que o atual prefeito deveria pedir uma auditoria nas contas do ex-prefeito, para ver como se chegou a isso. Seria o correto?

Silvio Magalhães - Não vai fazer isso, ninguém chuta por vontade própria contra o próprio gol.

Efeito - O atual prefeito deveria rever os contratos da gestão anterior?

Silvio Magalhães - O atual prefeito estava lá acompanhando e participou de todas as decisões.

Efeito - Qual seria a sua posição diante de uma prefeitura com essa dívida?

Silvio Magalhães - Primeira coisa uma auditoria em todas as ações da antiga administração.

Efeito - Se uma auditoria comprovasse irregularidades motivaria rever contratos ou cancelar contratos, sendo que têm obras da gestão anterior que não foram concluídas e outras estão deteriorando?

Silvio Magalhães - Sim, as irregularidades têm que ser corrigidas. Se a auditoria encontrasse distorções iríamos chamar as empresas responsáveis para realinhar os custos, e corrigir as distorções.

Efeito - Sobre a dívida, comentam que só num prazo de dois anos a administração vai sair do sufoco e ampliar os trabalhos na cidade. Na sua opinião essa expectativa é correta?

Silvio Magalhães - Seria irresponsável fazer previsões. Mas, a atual administração vai ter muito trabalho para equilibrar as coisas.

Efeito - Cidades endividadas partem para a contenção de gastos: suspensão de horas-extras, cortes de despesas supérfluas, e até decreto de emergência financeira. Em Bertioga, críticos dizem ser obrigatório reduzir o número de funcionários comissionados, que seriam mais de 300 “na folha” da prefeitura. A sua opinião sobre isso?

Silvio Magalhães - Se faz necessário há muito tempo um organograma funcional. Para evitar injustiças e valorizar o servidor público.

Legislativo tem participação na dívida 

Efeito - Cabe culpa à Câmara pela atual situação financeira da cidade, uma vez que é ela que aprovou parte dos empréstimos contraídos pela prefeitura?

Silvio Magalhães - Não tenha a menor dúvida, isso tudo foi construído a duas mãos Executivo e Legislativo, nesse caso foram irmãos siameses. A Câmara deveria exercer o papel de fiscalizadora e mediadora em todos os processos.

Efeito - Você imaginava que essa relação de "irmandade" teria esse custo para Bertioga?

Silvio Magalhães - Veja, quando olhamos para o topo dessa situação percebemos um processo epidêmico na administração pública do Brasil que identifica: falta de planejamento, falta de fiscalização. Falta de participação social na tomada de grandes decisões. Falta de prioridade, Bertioga tem uma arena de eventos que custou R$ 53 milhões, e não tem uma saúde e nem educação valorizadas.

Efeito - A Câmara pode ser penalizada por possíveis anomalias nas finanças do município?

Silvio Magalhães - Não tenha a menor dúvida que vai existir reflexos das aprovações que estiverem fora do padrão legal. Se eu não me engano o Ministério Público já está se manifestando em relação à Câmara de Vereadores.

Efeito - Já estando na mira do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), como a Câmara deve agir na apreciação das contas públicas do ex-prefeito de Bertioga, no caso, possível, delas chegarem com parecer desfavorável do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP)?

Silvio Magalhães - Essa decisão infelizmente é política e não administrativa contábil. No entanto, se ocorrerem aberrações nessas aprovações terão consequências.

Efeito - Nesse ponto e no caso das contas do ex-prefeito chegar com parecer desfavorável do TCE, como o legislativo deve se comportar?

Silvio Magalhães - Tudo vai depender da capacidade do ex-prefeito de negociar. Hoje o jogo político mudou, o atual tem interesse de continuar e o ex vai precisar ter muito empenho para driblar essa situação. Uma coisa é sabida: o ex tem quem o apoie e tem quem tem mágoa. A decisão só no segundo tempo ou na prorrogação.

Efeito - Quer acrescentar algo mais?

Silvio Magalhães - Manifestar minha preocupação com as consequências do endividamento da cidade que vão ter reflexo na base da pirâmide: menos saúde, menos educação, menos cultura, enfim tudo a menos para quem mais precisa.

NOTA DA REDAÇÃO - O Efeito Letal já fez contatos com a atual gestão da Prefeitura de Bertioga que, seguindo o comportamento do governo anterior, não responde à reportagem. O espaço se mantém aberto à manifestação da administração municipal bertioguense.

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