Pular para o conteúdo principal

Cinco conselheiras tutelares e centenas de destinos que se cruzam com os delas

O Conselho Tutelar é a linha de frente na defesa do futuro, cada atendimento é uma tentativa de romper ciclos de violências e construir novas oportunidades para as crianças e adolescentes 


Por Aristides Barros

Uma por todas e todas pelas crianças e adolesscentes

A reportagem celebra o Dia Nacional do Conselheiro Tutelar, que vai ser comemorado no próximo 18 de novembro, e traz um pouco das histórias de cinco mulheres que atuam no Conselho Tutelar de Bertioga.


A instituição trabalha na busca de soluções a problemas muitas vezes difíceis de resolver. Porém, e sempre, elas precisam achar as soluções porque as vidas e o futuro de muitas crianças e adolescentes dependem disso.


O trabalho saúda o Dia Nacional do Conselheiro Tutelar e as conselheiras e os conselheiros, que se dedicam a proteger a população infantojuvenil, que é o real e autêntico futuro da nação.


"Lutar todos os dias por justiça"  

Iolene

A conselheira tutelar Iolene Oliveira, 47, anos chegou ao cargo contabilizando 751 votos. Para ela, essa votação expressa o reconhecimento e a confiança que a população bertioguense depositou no trabalho ao qual a conselheira realiza com extrema dedicação à causa da infância e adolescência. 


Iolene define que a função de conselheira tutelar é mais que um cargo. "É lutar todos os dias por justiça, garantir direitos e fazer a diferença na vida das famílias que mais precisam de amparo e esperança."  


A dura realidade de fatos presenciados “colam” na memória, e o que marcou fortemente a sua atuação, foi o atendimento a uma ocorrência envolvendo quatro irmãos vítimas de violência sexual. 


O caso foi dentro do mesmo núcleo familiar. Iolene manteve a calma e controlou as emoções para garantir o acolhimento imediato e a proteção das quatro crianças. 


"Essa experiência me fez compreender a grande responsabilidade e o impacto que o nosso trabalho tem na reconstrução de vidas e na defesa da dignidade da criança e o adolescente."


Iolene é a atual coordenadora do Conselho Tutelar de Bertioga, a função que é meramente burocrática tem sistema de rodízio. A cada 10 meses é indicada uma nova coordenadora. E todas as cinco, ao seu tempo, assumem essa posição. Já o mandato de conselheira tutelar é eletivo e tem duração de quatro anos.


“Empatia, firmeza e compromisso com a vida”


Vanessa Ramos

A estudante de Serviço Social e Gestão Pública Vanessa Ramos, 42 anos, está na categoria de "veterana". Esse é o seu 2º mandato de conselheira tutelar, foi reconduzida ao cargo com 865 votos. A votação ilustra a credibilidade, reconhecimento e a confiança da comunidade bertioguense, o que ela devolve realizando um trabalho de muita dedicação e amor às famílias, e às crianças e adolescentes do município.


Vanessa vive dias difíceis e outros nem tanto no cumprimento da função. Porém, o dia que mais marcou sua atuação não foi durante o expediente, estava de folga, mas trabalhou: trouxe uma vida ao mundo. 


“Precisei realizar um parto natural na rua, foi uma situação que exigiu calma, coragem e sensibilidade diante de uma vida que chegava ao mundo em condições delicadas. Nesse dia compreendi de forma ainda mais profunda o verdadeiro sentido da missão que exercemos, que é estar disponível para o outro mesmo fora do horário de trabalho, quando a vida e a dignidade humana pedem socorro".


Ela afirma convicta que ser conselheira tutelar é mais do que uma profissão. "É um chamado. É lutar diariamente pela garantia de direitos, ser voz ativa na proteção da infância e atuar com empatia, firmeza e compromisso com a vida."


“Missão árdua e profundamente gratificante”


Shirlei

Shirlei Mendes dos Santos Augusto, 40 anos, obteve 681 votos e permaneceu no cargo de conselheira tutelar. Ela também é uma veterana, que passou de suplente a titular do cargo.  


A conselheira pontua que cada um dos votos recebidos traz a confiança, esperança e o compromisso de lutar pelas proteção das crianças e adolescentes de Bertioga. E ela não cansa de demonstrar a sua forte disposição para o trabalho que é de vital importância para a comunidade bertioguense.


Shirlei assinala. "Ser conselheira tutelar é uma missão árdua, mas profundamente gratificante. Todos os dias lidamos com dores, desafios e histórias que nos marcam para sempre". A forte disposição ajuda para que a muralha psicológica das conselheiras fique de pé diante de situações que abalam qualquer ser humano. 


"O que mais me tocou ao longo desses anos foram os casos de violência sexual e agressão. São situações que ferem a alma e nos fazem refletir sobre o quanto ainda precisamos cuidar, acolher e proteger". A conselheira se mantém erguida, consciente de que não pode deixar se abater.  


"Entre tantos momentos difíceis, há um que nunca saiu da minha memória. Foi o dia em que fomos acionados porque uma mãe, logo após dar à luz, abandonou seu bebê em uma lata de lixo." 


“Sempre garantir os direitos da criança e do adolescente”


Professora Lau

Também outra veterana, por conta de seu segundo mandato consecutivo, reeleita com 739 votos,  Laucildes Aquino Bispo dos Santos, 54 anos, a Professora Lau, dá continuidade ao trabalho e é taxativa. “Todos os casos são marcantes”, diz e pondera. “Cada caso com um olhar diferenciado e todos têm, sempre, que garantir os direitos da criança e do adolescente.”


Depois da sequência de observações, vem a dura constatação, que é unanimidade entre elas. “Mas sem excessão, os casos de abuso sexual contra crianças acabam nos deixando mais vulneráveis, dependendo da rede de apoio”, afirma.


A partir da Professora Lau vem a informação dos “passos” que levam ao cargo de conselheira(o) tutelar. "Passamos por um processo de escolha por meio de etapas de eliminação, que consistem em verificação de documentos, entrevista com psicólogos, curso de capacitação, prova do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) com média até 7. E depois vem a votação dos(as) bertioguenses, que podem votar em até três candidatos.” 


O mandato do conselheiro(a) tutelar tem duração de quatro anos e as experiências, casos e histórias, advindas dele ficam para sempre. São passagens divididas entre infelizes e boas, e todas dão a certeza de que a existência do Conselho Tutelar é extremamente importante. 


“Chegar a solução de um caso que não tinha saída”


Rosana Nascimento

A conselheira tutelar Selma Rosana Maria Simões Nascimento, 51 anos, pós-graduada em Direito, está no seu primeiro mandato, chegou ao cargo pontuando 673 votos. Apesar de “novata” na função já tem marcas que ficarão por muito tempo, e conta um caso que produziu essas marcas.  


Era noite quando recebeu um chamado no plantão do Conselho Tutelar. Logo se dirigiu a casa onde encontrou três irmãos e um adolescente. Ao ver o carro o adolescente ficou nervoso, disse que se sentia culpado pela situação que estavam. Segundo relatos, havia mais de um dia que tinham sido deixados à própria sorte. O estado do bebê de quatro meses era lastimável, sem roupa e com uma hérnia enorme no umbigo quase não tinha fôlego para chorar, e estava quase desfalecendo. 


Após uma conversa terna, pacífica e amorosa, as crianças entraram no carro aliviadas, confiantes de que seriam levadas a uma casa onde teriam comida, roupas e cuidadores, bem como o adolescente.. 


“Ser conselheira tutelar é uma sensação inexplicável, quando se exerce o mandato, quando tocamos os problemas das famílias descobrimos um misto de sentimentos e reações. É  uma missão muito séria, muito especial e inesquecível, quando se chega à solução ideal para cada caso, que até então não haveria uma saída. É muito satisfatório e gratificante. O primeiro atendimento é impactante, pois é a primeira porta de desabafo e despejo de toda dor quando descobre as violências e abusos, sofridos talvez por muito tempo."

 

 




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Em Bertioga, deputado Reis fala sobre assuntos que abalam a política nacional e o país

Na cidade, ele ajuda comunidades que precisam ser “separadas” do mapa do Perb para que elas possam continuar existindo Por Aristides Barros Reis defende a cassação de Eduardo Bolsonaro / Foto: AB Recentemente, o deputado estadual Paulo Batista dos Reis (PT) participou de uma reunião, em Bertioga, com líderes comunitários, um representante da Fundação Florestal e a prefeitura bertioguense para intermediar temas relacionados às obras necessárias nas Chácaras Mogianas em Boraceia.  Ele considerou que o encontro foi positivo, com a definição de que a Sabesp pode começar a fazer as obras de saneamento básico (rede de água e esgoto) na localidade e a prefeitura pode iniciar os trabalhos de infraestrutura de sua alçada. Isso tudo, havendo a sinalização positiva da Fundação Florestal, que é a gestora do Perb, e o aval do Governo do Estado.  Após os temas da reunião, a reportagem indagou Reis sobre como ele avalia o comportamento do governo brasileiro frente aos Estados Unidos mediante...

Sequência de despejos no “coração” de Bertioga é comparada a higienização social

Reintegração “imita” a política xenófoba dos países que expulsam imigrantes; na cidade litorânea os alvos são os pobres da Vila Tupi    Por Aristides Barros PM e oficial de justiça avisa o morador do despejo A Vila Tupi, no Centro de Bertioga, foi regularizada via processo fundiário que a princípio seria para beneficiar os moradores. A localidade foi reconhecida como área de interesse social e o plano regularizador era para o bem das famílias que vivem há décadas no local. Mas, várias delas  já foram descartadas do plano. Devido a ação atingir um grande número de famílias sem muitos recursos que moram no local fincado na área central da cidade muitos olhares veem o caso como um expurgo da população pobre da zona nobre de Bertioga. “É uma limpeza social”, afirmam e tom crítico à ação. Uma ação de reintegração de posse, com processo já transitado em julgado, prevê retirar cerca de 150 famílias da Vila Tupi e dezenas já foram despejadas. As que ainda estão em suas ca...

Advogado é agredido durante ação da Prefeitura de Bertioga e denuncia a violência

Doze agentes públicos entraram na propriedade do profissional forense e rolou a pancadaria que foi parar nas redes sociais  Por Aristides Barros Advogado em busca de justiça A apuração de uma suposta denúncia anônima de construção irregular em Área de Preservação Permanente (APP) resultou em atos de violência contra o dono da propriedade, o advogado e empresário João Xavier dos Santos Neto, 40 anos, alvo da ação que envolveu ao menos 12 agentes públicos, entre fiscais e GCM’s.  O caso teve forte repercussão com as imagens da agressão, gravadas via celular, indo parar nas redes sociais, o que gerou indignação devido a área de segurança pública, entre outras, ser um dos pontos fracos da administração.  É voz corrente e consensual na cidade de que o setor, apesar do alto investimento, mostra-se ineficiente na contenção da criminalidade. Por isso, ver um “pelotão” se lançando com fúria sobre um cidadão bertioguense não foi bom para a imagem da Prefeitura de Bertioga.  ...