A resiliência dos pescadores não deixa o valor histórico, cultural e econômico vindo das águas se afogar no mar do progresso
Por Aristides Barros
O oceanógrafo Fabrício Gandini, entrega em maio, deste ano, o projeto audiovisual - idealizado por ele - intitulado “Paisagem Cultural Pesqueira Brasileira – Orla Histórica de Bertioga”, cuja ideia é mostrar ao público a importância da pesca artesanal desenvolvida em Bertioga.
O projeto custeado com verbas da Lei Aldir Blanc já foi apresentado e aprovado pela Secretaria de Turismo e Cultura de Bertioga. Ele que também fala do tombamento cultural paisagístico deste cenário pesqueiro, busca a valorização da atividade e a melhoria da infraestrutura pesqueira na orla histórica do canal de Bertioga.
A pesca artesanal tem forte relevância na vida cultural e socioeconômica do município, e o trabalho pretende revelar essa força tripla por meio audiovisual, mostrando os pescadores, como trabalham e o que precisam para seguir no ofício, que é uma das tradições da cidade
O público terá acesso ao levantamento histórico pesqueiro da orla marítima de Bertioga, acrescido de imagens desse território que é o habitat natural dos pescadores. Orla e pescadores elencados ao status de figuras centrais no trabalho de Gandini.
Sem viés de “resgate identitário ou reparação histórica” , o projeto põe no mesmo barco o passado e o presente da pesca artesanal, que desde sempre é parte da vida dos bertioguenses, que levam à mesa peixes e frutos do mar frescos trazidos pelas embarcações do povo do mar.
Romantismo à parte, o trabalho do oceanógrafo intenciona escancarar essa relação terra e mar onde os personagens principais do enredo, não raro, ficam à deriva.
O projeto também vai mergulhar de cabeça nessa realidade, visando que os olhos e ouvidos da sociedade vejam e ouçam as reivindicações das comunidades de pescadores necessitadas de apoio para continuar a viver o que é preciso: navegar.
Colônia dos Pescadores reforça o projeto
A Colônia de Pescadores Z-23 de Bertioga, presidida pelo pescador artesanal Kally Molinero, 42 anos, não hesitou em embarcar no projeto do oceanógrafo. Ele e Fabrício Gandini são velhos parceiros nas lutas do povo das águas.
A longa existência da Colônia Z-23 ilustra a relação umbilical de Bertioga com a pesca artesanal. Secular, ela foi fundada na cidade em 1921 e ainda hoje funciona no mesmo endereço.
Kally se autoafirma pescador desde que se conhece por gente, saiu da bolsa d'água de dentro da mãe e foi para o mar com o pai, sua vida é no mar.
Fabrício é oceanógrafo com mestrado em oceanografia pesqueira e doutorando no Programa de Ciências Ambientais da Universidade de São Paulo (USP). Há 25 anos atua na valorização da pesca artesanal ao longo da costa brasileira com ênfase ao conhecimento popular e história oral de pescadores e pescadoras artesanais.
Colaborou em diversos colegiados para formulação de políticas públicas, com destaque na busca pelo reconhecimento de terrenos de marinhas junto à Secretaria do Patrimônio da União (SPU) de interesse coletivo pesqueiro como praias, orlas e áreas ribeirinhas de interessa da pesca sendo ainda responsável pela criação de organizações de interesse da pesca.
O pescador e o oceanógrafo concordam que a cidade de Bertioga merece ter reconhecida as suas áreas de interesse especial de pesca artesanal, reconhecimento que dará paz e tranquilidade a todos que exercem a digna profissão de pescador.
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