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Silvio Magalhães manda bala na administração de Bertioga

Oposição   

Para o vereador a falta de transparência torna o governo obscuro e distante da população 


 Vereador não dá trégua no trabalho de fiscalização   

Emancipada há 28 anos, a cidade de Bertioga, no Litoral de São Paulo, apesar de nova é herdeira de velhos problemas, transmitidos de uma classe política a outra, que entra e sai do poder deixando o município e sua população de pouco mais de 60 mil habitantes afogados num mar de promessas não cumpridas. 

O revezamento de comando serve para que no passar dos bastões os bertioguenses continuem a corrida para lugar nenhum, e permaneçam nas mãos dos mesmos 'dominadores da prova'.

O empresário Silvio Magalhães (PSB) que entrou no legislativo bertioguense em maio de 2018 traça um novo percurso para a cidade.

Ele assumiu a cadeira do vereador Luiz Carlos Pacífico Junior que renunciou ao cargo e, no abandono da vaga, pariu uma legião de eleitores órfãos.

No entanto, o mau aos que confiaram no fujão foi bom para a Câmara que viu a oposição ser inaugurada com o novo parlamentar. 

Sob o governo do prefeito Caio Matheus (PSDB), a cidade segue o trabalho fiscalizador do estranho que levou desconforto ao ninho tucano.

Silvio Magalhães mora há mais de 30 anos em Bertioga e já tentou o cargo de prefeito por duas vezes: a primeira em 2004 pelo PT e depois em 2012, pelo PV.  

Oposicionista, ele já se posiciona como pré-candidato a prefeito nas Eleições Municipais de outubro de 2020.

Na entrevista, o pesebista escancara os pontos negativos da atual gestão, em situações que fazem o Ministério Público de São Paulo (MP) e a Justiça a observar com olhos de águia todos os movimentos do governo tucano.  

EL. A sua chegada ao Legislativo de Bertioga levou o tom de oposição à Câmara, embora seja uma voz solitária em um local que tem mais oito vereadores. Como é fazer oposição solitária?

SM. Na verdade a gente passou a fiscalizar com um olhar mais ativo a forma que a administração realiza o seu trabalho. Eu entendo que o nosso papel não é de oposição, eles que nos classificam como oposição. Mas, temos que olhar com muita atenção e defender os interesses da nossa cidade. Se olhar os contratos, se questionar valores, se fizer perguntas para entender porque a administração tem determinados comportamentos é ser oposição, então eu sou oposição.
Muitas coisas que encontramos, principalmente os pedidos que são feitos pelo Executivo, nos deixa uma série de dúvidas. Isso coloca o vereador na obrigação de fiscalizar, questionar e saber exatamente de que forma e como o recurso público está sendo aplicado. Se fiscalizar é ser oposição então eu sou oposição.

EL. Você se sente bem em denunciar situações que indicam possíveis irregularidades praticadas pelo Executivo?

SM. Para ser sincero não, eu gostaria que tivéssemos uma administração que pudesse realmente fazer seu papel de forma transparente e clara. Todas as vezes que encontro contratos com valores que, no meu caso, me assustam eu os questiono. Para gastar tanto recurso numa determinada obra tudo precisa ser muito bem elaborado.
Quando não é a gente acaba denunciando com tristeza, porque boa parte desse recurso vai para o ralo e quem deixa de receber o benefício é a população carente, necessitada de apoio do poder público. Ver o poder público gastar dinheiro onde não deveria de forma inconsequente causa grande tristeza.

EL. A atual administração tem falhado muito?

SM. Eu percebo que a gestão não é clara, os contratos não são claros, a forma como as coisas são feitas não seguem um caminho muito claro. A administração parece uma caixa preta, cumpre as obrigações do Tribunal de Contas, mas observo contratos que não são coerentes. A verba que está sendo gasta poderia ter uma utilização melhor, acho que essa gestão se perde muito.
Costumo comparar a atual administração a uma balsa no meio do Canal de Bertioga, que não consegue ir nem para o lado direito e nem para o lado esquerdo, se direciona conforme o vento. Não tem projeto, não tem uma organização racional para atender as necessidades da nossa cidade.

EL. Você tem um calhamaço de documentos cujas fontes são o TCE e o MP, onde os contratos mostram anomalias na administração municipal. Em sua opinião, qual deles mostra que o Executivo prejudica a cidade?

SM. Algumas empresas não cumprem o que está nos contratos. Identificamos isso e temos como parceiro o Ministério Público. Já existem inquéritos abertos contra empresas que prestam serviços de baixa qualidade para o município com contratos de custo extremamente alto. A pergunta no ar é: porque gastamos tantos recursos se o resultado que temos para a nossa população é tão pequeno? O nosso papel aqui é cobrar explicações e o Tribunal de Contas e principalmente o Ministério Público nos auxiliam a levar à frente essas investigações.
Nos conforta porque não é uma atitude isolada, detectamos o problema e entregamos ao órgão que avaliando enxerga a necessidade de se fazer a investigação. Estamos no rumo certo que é levar o trabalho adiante para que a população e Bertioga não percam.

EL. De que forma Bertioga é prejudicada?

SM. Na somatória. Por exemplo, pega-se um contrato de dois milhões, outro de um milhão e duzentos e outro de um milhão e meio. Ao somar tudo isso vê-se erros consecutivos por falta de planejamento.
A atual administração ganhou a última eleição dizendo que o que faltava para Bertioga era gestão, e a situação continua do mesmo jeito. Porque em três anos não foi construída uma sala de aula, os postos de saúde dos bairros continuam em estado lamentável.
Esse conjunto de coisas são importante para a cidade e vemos serviços de baixa qualidade de custo altíssimo, é a somatória de recursos que vai para o ralo. Com uma gestão baseada no princípio da seriedade e honestidade não estaríamos da forma que estamos.

EL. Quais as consequências disso para os bertioguenses?

SM. A cidade não é só o tecido urbano, é também o tecido social. Os nossos indicadores educacionais são péssimos, na saúde todos se sentem desprotegidos, um exame demora demais. As pessoas com deficiência são mal atendidas, as que dependem do transporte público são mal atendidas. Isso mostra que o conjunto de serviços sob a gerência do Executivo é de péssima qualidade. Então eu vejo que a população paga um preço muito alto por tudo isso.

EL. Bertioga tem orçamento perto dos R$ 500 milhões. Mas, a precária infraestrutura do Centro e dos bairros, onde a situação é pior, revelam uma cidade  pobre, o que contradiz com o orçamento. Isso seria decorrente da aplicação errada da verba pública?

SM. Sem sombra de dúvida. Se o dinheiro é mal gasto não tem como prestar serviço de qualidade quer seja no centro ou na periferia. Os bairros ficam sem asfalto, sem saneamento, as pessoas têm grande dificuldade de mobilidade.
A cidade é um todo e a rodovia Rio-Santos acaba dividindo Bertioga em duas, a parte onde fica a grande concentração da nossa população está abandonada, o que é muito triste. São três anos de abandono e não precisava estar dessa forma com o  orçamento que a gente tem. É a falta criatividade, gestão e competência.  

EL. Recentemente, o prefeito pediu socorro ao Estado sugerindo alterações em leis ambientais visando que áreas verdes pudessem virar palco de empreendimentos. Como você viu o episódio?

SM. De forma lamentável, atestou a falta de competência para resolver o problema e traduziu: "nós precisamos de soluções mais rápidas e a solução rápida, se o senhor autorizar, é desmatar tudo para construir bastante prédios".
Não é assim, temos de visualizar o nosso grande potencial que é o turismo e investir em ações econômicas, alternativas que tragam desenvolvimento para o município. Sermos criativos e estabelecer parcerias nesse setor.
Infelizmente essa gestão tem o pensamento quadrado. Fazer aquilo, pedir socorro, fez parecer que a cidade inteira pensa assim, o que  é uma grande mentira, um equívoco. Representou a manifestação de um indivíduo que não consegue imaginar que o potencial que temos aqui pode atrair muito gente. 

EL. O turismo é o foco?

SM. O turismo é hoje o viés de negócio no mundo e estamos perdendo isso. Imagine o seguinte, estamos a 70 e poucos quilômetros de São Paulo, o maior centro consumidor da América Latina e a não temos uma atividade e nem infraestrutura voltada ao turismo, que seja incentivada pela prefeitura para recebermos uma grande quantidade de turistas.  

EL. Na política, as pessoas falam que Bertioga está sem candidato ao Executivo para as Eleições de 2020. O que tem a dizer, uma vez que se posiciona como pré-candidato a prefeito? 

SM. Eu fico preocupado porque sou pré-candidato a prefeito. O meu partido já vem discutindo isso faz um tempo, e disputaremos as eleições no município, apresentando um plano de trabalho para que as pessoas tenham acesso e possam entender nossa proposta de forma clara e objetiva. Para que a população sinta que a gente pode fazer um projeto diferente, colocar a cidade no lugar que ela merece, com desenvolvimento econômico, infraestrutura e qualidade de vida.  

EL. Há comentários que você não consegue formar grupos, não consegue agregar pessoas em torno do seu nome. É isso, você tem um temperamento difícil do tipo que espanta quem se aproxima?

SM. É muito interessante essa questão da política. Eu digo política, não digo politicagem. A política é aquela que discute  com a sociedade, que cria instrumentos para que possamos fazer as coisas de forma democrática, transparente. Que a gente cria através de conselhos para discutir onde serão aplicados os recursos. Isso é política de transformação, de desenvolvimento. A politicagem é quando determinados grupos sempre estão no poder. Ganha 'a,b ou c' e eles estão sempre lá, são elementos que se repetem. Se agrupam não pelos interesses da cidade, mas por interesses pessoais. Infelizmente, a prefeitura acaba se transformando num banco de negócios para atender aos interesses desses pequenos grupos.

EL. Quem está com você?

SM. Nós agregamos pessoas da sociedade, que moram, trabalham e colaboram com o nosso município. Temos muitos contatos, participamos de várias reuniões onde elas dão suas opiniões, mostram seus sentimentos. Já esses indivíduos que dizem 'olha o Silvio não agrupa' são aqueles elementos que se repetem. Esses, eu realmente não gostaria de participar com eles.
Porque me parecem grupos muito distantes do interesse da cidade, de querer ver tudo transformado de forma evolutiva para deixar a cidade com qualidade. São grupos que têm interesses individuais e faço questão de não fazer parte, porque quando a gente olha bem não parece um grupo, parece uma quadrilha.

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