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Sindicalistas e a luta pelo fim da escala 6x1; tema virou assunto nacional

A ideia é acabar com a jornada de “trabalho cavalar”, que junto ao salário mínimo é um dos símbolos de exploração da classe trabalhadora 

Por Aristides Barros


Manifestação pelo fim da escala 6x1/ Foto: Jornal A Verdade 


Uma série de manifestações realizadas sexta-feira (15) em vários estados pediram o fim da escala 6x1, cuja proposta já tramita no Congresso Nacional. A jornada faz a classe trabalhadora ser a expressão viva da frase “trabalha feito um burro de carga”. 


A redução da jornada pretendida visa implantar no Brasil uma escala modelada a 4x3 -  com trabalho em quatro dias por semana e três dias de folga, o que reduziria a carga para 36 horas semanais de trabalho.


O site já havia conversado o tema com a deputada Juliana Cardoso (PT-SP) e “estendeu” o assunto com sindicalistas, para ouvir como eles encaram a proposta que está na boca dos trabalhadores e “correndo” pelo país. 

  

Dois dirigentes sindicais - de cidades do Litoral Paulista - falaram com a reportagem:  Jorge Guimarães, o Jorjão, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Bertioga (SSPMB) e Cássio Canhoto, que é um dos diretores do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Santos (SINDSERV).


O site também falou com o sindicalista da região do Alto Tietê, Josemar Bernardes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Mogi das Cruzes (SINTRAMOG). O ponto em comum é que bradam pela pela redução da jornada de trabalho e da abolição da desumana e exploratória escala.


Jorjão - Escala nem deveria existir  / Foto: AB 


Começando por Bertioga, Jorjão foi direto na ferida. “A escala de trabalho 6x1 nem deveria existir. O mais interessado nessa jornada é o patrão, não é o empregado”, detonou. E trouxe a relação de empregados “leais” aos patrões que veem a medida como prejudicial aos seus empregadores. 


Para esses casos, não raros, o sindicalista emendou: “é a história da barata que ‘ama’ o chinelo”, disse explicando a posição de trabalhadores que vão contra a classe para defender os patrões. “Entristece saber que têm trabalhadores contra a medida”, lamenta. 

 

Jorjão é enfático. “O fim da 6x1 traria a classe trabalhadora para a vida a qual todos têm direito, com mais tempo para o descanso, para a família e para o convívio social”, elenca. Ou seja: enquanto a jornada que é melhor exemplificada no trabalho de “segunda a sexta” a pessoa só vai “viver” para trabalhar.


Josemar - Seria uma vitória triunfal dos trabalhadores / Foto: Arquivo Pessoal


O presidente do Sintramog, Josemar Fernandes, vê na possível aprovação da PEC uma vitória triunfal para a classe trabalhadora, principalmente as que são sacrificadas pela dura jornada. “Sendo aprovada, vira lei e todos terão de cumprir a sua parte”, pontuou. 

“É uma luta de anos que hoje tem chance real de ser ganha. As mobilizações não podem parar, os sindicatos precisam colocar as suas categorias nas discussões. O assunto é de toda a classe trabalhadora”, disse.


Sindicalista: trabalhadores unidos para derrubar a 6x1

Canhoto - A lei tem de “pegar” geral / Foto Sindserv

Em Santos, o diretor do Sindserv, Cássio Canhoto, reforça os mesmos argumentos dos sindicalistas Jorjão e Josemar para o fim da escala 6x1. “Tem de cair sem retirar nenhum direito do trabalhador e sem reduzir salários”. Os três chicotearam a fala de Jair Bolsonaro que ruminou. “Os trabalhadores querem menos direitos e mais trabalho’. 


Para os líderes sindicais, a dimensão ganha pela proposta no país, impulsionada pelas  redes sociais e a mídia tradicional, evidencia que o ex-presidente, errado como sempre esteve, tinha maior sintonia com o empresariado e desprezo pela classe trabalhadora. 


Canhoto, que é atento à relação conflituosa entre Capital e Trabalho, sabe da forte oposição dos patrões ao sucesso dos empregados. Por isso, afirma que o fim da escala 6x1 tem de atingir todos os trabalhadores, a união fortalece. Ele não vê justiça em leis criadas para beneficiar uns e ‘esquecer’ outros.


O sindicalista observa que há categorias que se “matam de trabalhar”, e outras que não sofrem tanto. “Independente disso, a lei ‘tem de pegar geral’ ser para todos os trabalhadores”, pontua. Para que ela aconteça em pé de igualdade todos os trabalhadores precisam se unir à luta pela aprovação do fim da escala 6x1.


Precursores da proposta: fim da escala sem reduzir salários


Erika Hilton e Rick Azevedo "sacudiram" o país / Foto: PSOL na Câmara 


Esse é ponto  inegociável da proposta que “varre” o país, segundo o seu idealizador, o vereador eleito do Rio de Janeiro, Rick Azevedo (PSOL), que é líder do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) e a deputada Erika Hilton, também do PSOL carioca. 


Azevedo é o autor da ideia encampada por Hilton, que “pegou a visão” e levou para a Câmara Federal já transformada em Proposta de Emenda à Constituição (PEC). 


Na Casa, a PEC passou a tramitar após ganhar grande adesão de assinaturas dos deputados da ala esquerdista. A direita torce o nariz, mas teve de colocar o rabo entre as pernas e deixar o bloco passar.


Em trâmite   


Depois de vencer a coleta das assinaturas - mais de 200 e só eram necessárias 171 - agora acontece a apresentação oficial da PEC, que, em seguida, é analisada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), responsável por avaliar a admissibilidade da proposta.


Feito isso, ela passa por comissões especiais, que discutem o mérito e podem modificar o texto original, para melhorias ou visando maior chance de aprovação e apoio interno entre os deputados.


A proposta também passa por uma série de audiências públicas, com sindicatos, associações e especialistas sendo ouvidos para debater e fornecer subsídios para os congressistas decidirem.

 

Seguida a análise das comissões, a PEC é levada ao plenário da Câmara para ser  votada pelos deputados. A aprovação depende do voto favorável de 308 dos 513 deputados. Se aprovada, vai para o Senado, onde passa por um processo semelhante.


Caso haja discordância entre as duas Casas, ela passa por um processo de ajustes sucessivos, com nova votação e apreciação até que Câmara e Senado cheguem a um consenso sobre o texto final.


Se for aprovada de forma definitiva pelas duas Casas, sem modificações ou após a resolução das alterações, a PEC será promulgada.

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