quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Bertioga não tem uma boa educação

Educação não se mede pelo IDEB 

Por Claudemir Belintane (*)


Professor universitário faz alerta para comunidade estudantil - Foto: Tânia Rego / Agência Brasil

Nas eleições municipais deste ano, muitos prefeitos afirmavam que em suas gestões a educação teria avançado bastante e citavam o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do Município, que teria alcançado ou superado a meta prevista.

Infelizmente o povo e às vezes até mesmo educadores não entendem que o IDEB é um índice geral muito precário e que não serve para indicar avanços qualitativos no panorama nacional, estadual ou regional da educação. Além de não servir como parâmetro e avanços nem em Língua Portuguesa, nem em Matemática, o IDEB é também muito fácil de ser fraudado ou mesmo manipulado.


Então, como nós, cidadãos, podemos saber se uma rede escolar ou a educação de um município vai bem? O teste é simples e objetivo, você mesmo pode fazer. Vamos lá!?


Tomemos como exemplo o município de Bertioga e vejamos se as questões abaixo podem ser respondidas afirmativamente por  educadores, pais ou  mães de aluno(a)s do Fundamental II (seja dos anos iniciais ou finais, 6º ao 9º ano):


1) Seu filho ou sua filha consegue ler um texto de uma página de extensão com fluidez e, ao mesmo tempo, compreender o sentido geral nele contido? Por exemplo, ler uma notícia curta de jornal e resumir com precisão o que o texto diz? Consegue ler uma crônica e explicitar mesmo que verbalmente sua mensagem?


2) Ele ou ela consegue comentar algum episódio da História de Bertioga? Sabe dizer por que a grande avenida principal que corta a cidade se chama Anchieta? Consegue dizer alguma coisa sobre a Confederação dos Tamoios? Sabe quem foi Cunhambebe, Martim Afonso de Sousa, João Ramalho e outros nomes estampados nas placas de ruas de sua cidade? Diante de um turista, saberia comentar alguma coisa sobre o forte São João ou sobre outros pontos da História da fundação de Bertioga ou mesmo sobre seu ambiente natural?


3) Sabe escrever um texto de uma página resumindo o que leu em alguma reportagem de jornal? Teria condições de ajudar o pai ou a mãe ou a si mesmo, escrevendo um orçamento, uma carta, uma solicitação de emprego etc.


4) Utiliza as quatro operações com agilidade? Resolve problemas de percentagem? Consegue entender o que significa uma letra (incógnita) em uma equação de primeiro grau? Entende o conceito ou sabe resolver potências e raízes quadradas de baixa complexidade? Conhece um pouco de geometria plana (teoremas de Tales e de Pitágoras, propriedades e classificação das figuras planas)? Consegue ajudar o pai ou a mãe no balanço de receitas e despesas da família?


5) Sabe usar bem as tecnologias digitais de hoje ou apenas consome diversão barata nas redes sociais e nos aplicativos para computadores e celulares?


6) Tem interesse por eventos culturais para além do que a televisão e a mídia consumista empurram pra eles? Frequenta biblioteca e centros culturais?


7) Enfim, consegue se servir minimamente do que aprende na escola? Em outras palavras, percebe que a educação ajuda a viver e a conviver?


Se as respostas não forem satisfatórias, a (o) cidadã(o) já saberá que o futuro de sua descendência já estará parcialmente condenado. Quer perceber onde mora a culpa?


Além de perguntar a crianças e adolescentes, pergunte ao adulto, ao Sr. Secretário da Educação de Bertioga. Pergunte se o PME (Plano Municipal de Educação) explicita bem uma pedagogia capaz de contextualizar as singularidades de Bertioga – exemplo: o fato de ser município litorâneo, de ser estância turística, de ter um ambiente que requer atitudes preservacionistas implicaria em uma pedagogia diferenciada?


Indague se as escolas desenvolvem projetos que despertam nos alunos alguma consciência em relação à sua prosperidade ou a de suas famílias. Se o currículo prevê formações e projetos vocacionais que apontem para o futuro do trabalho, da pesquisa, das tecnologias?


Insista ainda se há investimentos sólidos na formação do corpo docente, suficientes para garantir uma educação de qualidade para o município. Também é relevante saber se Bertioga participa de algum circuito nacional de Feiras de Ciências ou de outros eventos culturais dedicados à infância e à adolescência?


A resposta possivelmente será despistadora. Não fará mais do que elencar uma listinha de um ou outro projeto que só sai do papel pra turista ver (como acontece com a educação ambiental, que ocorre uma vez por ano como se fosse de fato uma prática escolar cotidiana).


Quem lê o Plano Municipal de Educação de Bertioga e de alguma outra cidade ruim de educação, vai perceber que em nada se diferenciam. Apresentam informações sobre o município na introdução, que vão desde uma ínfima História do lugar (na visão dos vencedores) a dados socioeconômicos do IBGE, mas sem estabelecer as necessárias relações entre essas informações e o currículo escolar e, muito menos, permear minimamente o cotidiano de cada sala de aula com as singularidades do município.


Então, é isto: o IDEB serve para mascarar, enganar, tapar sol com peneira e sobretudo para esconder que o prefeito escolheu um secretário que nada entende de educação - um aliado submisso, que ajuda nas campanhas eleitorais e sabe blindar o executivo das complexidades que a educação libertária naturalmente implica.


Então, futuro prefeito, coragem! Faça diferença! Opte por uma educação pra transformar e não apenas pra mentir a partir do IDEB, como tem sido feito até agora. Escolha um secretário bem formado, democrático, capaz de mobilizar educadora(e)s, aluna(o)s, famílias, entidades e conselhos para planejar com eles  uma educação livre e transformadora.  É isso que vale à pena! É disso que Bertioga precisa!


(*) Claudemir Belintane  - Prof. livre-docente da FE-USP (cidadão bertioguense desde 2022) -  claubelintane@gmail.com


domingo, 10 de novembro de 2024

Golpistas do 08/01 monitoravam os segurança de Lula; plano era raptar o presidente

ATOS GOLPISTAS 

Grupo se preparava para um possível confronto armado com seguranças do presidente e do ministro Alexandre de Moraes


Da redação


Lula e Moraes na mira - Foto: Ricardo Stuckert
 

A Polícia Federal recuperou arquivos eletrônicos apagados do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), que revelam o levantamento dos nomes, das rotinas e do armamento usado pelos responsáveis pela segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo o portal UOL.


As evidências e provas da tentativa de golpe que acarretaram no ataque do 8 de Janeiro, escondidas nas nuvens da internet, foram restauradas com a utilização de um software israelense, como adiantou a colunista do Estadão Eliane Cantanhêde.


O conteúdo das mensagens revela ainda que os seguranças do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também foram monitorados. De acordo com o UOL, o planejamento do golpe de Estado previa a abordagem e captura de Lula e de Moraes pelos golpistas.


Após as novas descobertas, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, deu mais 60 dias para as investigações da PF, que depois serão analisadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e devem parar no Supremo em 2025.


Inquérito "em via de conclusão"


De acordo com a PGR, a investigação sobre a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro em um plano de golpe para se manter no poder "encontra-se em via de conclusão".


A informação está em parecer enviado ao STF. Agora, a PGR deverá aguardar os novos desdobramentos dos conteúdos encontrados no celular de Cid para levar o caso adiante.


Até o momento, há dois indícios que complicam a situação de Bolsonaro. O primeiro é um áudio enviado por Mauro Cid que sugere que o ex-presidente ajudou a redigir e editar uma minuta de golpe.


O segundo é o depoimento do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que atribui a Bolsonaro a articulação de reuniões com comandantes das Forças Armadas para discutir "hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral".


O ex-presidente foi intimado, mas ficou em silêncio no depoimento. A PF marcou audiências simultâneas, para evitar a combinação de versões e pegar eventuais contradições nas respostas. Quando a força-tarefa de delegados ficou frente a frente com os investigados, 15 deles decidiram não responder às perguntas.


Fonte: Estadão 


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Criança de 4 anos é morta durante ação da Polícia Militar, em Santos

O pai do menino também foi morto pela PM quando foi deflagrada a Operação Verão, entre os meses de janeiro e abril deste ano

Da redação


Ryan morreu enquanto brincava Foto: Reprodução

 

A Polícia Militar conseguiu, em um espaço de nove meses, ter envolvimento direto na eliminação de duas gerações de uma mesma família:pai e filho. Primeiro na morte do pai, o deficiente físico Leonel Andrade Santos, 36 anos, morto a tiros durante a Operação Verão, acontecida de janeiro a abril desde ano. 


E agora na morte de Ryan da Silva Andrade Santos, de apenas 4 anos de idade, que era filho do deficiente físico. O menino foi morto na noite de terça-feira (05), no Morro São Bento, em Santos, quando brincava com outras crianças na rua, onde policiais militares em perseguição a dois suspeitos abriram fogo. 


Ainda não se sabe se o tiro que matou a criança partiu da arma da polícia ou dos suspeitos. Destaca-se que dois adolescentes eram os alvos da perseguição, um de 15 anos e outro de 17, ambos foram baleados: um deles morreu e o outro foi socorrido.  


Pai e o filho tiveram o mesmo destino durante ações da PM



Leonel e Ryan foram mortos à bala Foto: Reprodução

O deficiente físico Leonel Andrade Santos, constou entre um dos 56 mortos durante a Operação Verão, realizada de janeiro a abril deste ano. Ele e um amigo, Jeferson Miranda, de 37 anos,  foram mortos no dia 9 de fevereiro por policiais do 4º Batalhão de Choque no dia 9 de fevereiro. 


As mortes foram testemunhadas por familiares e vizinhos, que disseram que a polícia chegou atirando. Já a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) afirmou que ambos foram mortos depois de apontarem armas aos PMs, que atuavam em ocorrência de tráfico de drogas.


Leonel usava muletas quando foi baleado. E devido ao uso do aparelho a família sustenta que ele não conseguiria empunhar uma arma para trocar tiros com os policiais, como à época foi descrito pelos agentes no Boletim de Ocorrência.


Em uma foto, tirada ao acaso no mesmo dia em que foi morto, pode se ver Leonel com os seus aparelhos de locomoção. Ele teve problemas com a Justiça, ficou preso por dez anos por envolvimento com tráfico de drogas. E a esposa, Beatriz da Silva Rosa, 29 anos, disse que após ganhar a liberdade deixou o crime. Beatriz garantiu que o marido não tinha uma arma.


Leonel em uma das vielas com as suas muletas Foto: Reprodução

 

Na época, a SSP disse que Leonel e Jefferson foram baleados e mortos após apontarem armas para policiais militares durante uma ocorrência de tráfico de drogas.


A SSP afirmou que a dupla foi socorrida e levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Na ação, foram apreendidos com eles um revólver calibre 38, uma pistola calibre 35, dois rádios transmissores e cerca de cinco mil porções de drogas, além de quantia em dinheiro.


O filho  


Viúva de Leonel e mãe de Ryan, a cozinheira Beatriz da Silva Rosa, 29 anos, acredita que o tiro que matou seu filho teria sido disparado pela Polícia Militar. De acordo com informações, ele e ao menos dez crianças brincavam em frente à casa de uma prima de Beatriz, quando o menino foi alvejado na barriga. A criança foi socorrida e levada à Santa Casa de Santos, mas não resistiu.


Por meio de nota, a SSP lamentou a morte de Ryan durante um confronto. Também informou,  que a Delegacia Seccional de Santos instaurou um inquérito para apurar os fatos e determinou a realização de perícia nas armas apreendidas, e no local do confronto para esclarecer a origem do disparo que atingiu a criança.


quarta-feira, 6 de novembro de 2024

MP pede exoneração de procurador suspeito de “rombo” milionário nos cofres de Bertioga

A cidade sofreu um prejuízo de mais de R$ 17 milhões: a Justiça deve tentar que o município seja ressarcido por ele e por outro ex-chefe da PGB 

Por Aristides Barros



Procuradoria passa por forte exposição negativa devido ao caso



Uma ação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), assinada pela Promotora de Justiça Joicy Fernandes Ramos, pede a exoneração de Roberto Esteve Martins Novaes do cargo de comando da Procuradoria Geral de Bertioga (PGB), de onde já estava afastado desde novembro de 2023, pedido também feito pelo MP e aceito pela Justiça.   


O afastamento cumpria visou que Novaes não atrapalhasse as  investigações sobre um prejuízo de R$ 17 milhões nas finanças de Bertioga, dano que seria decorrente de ingerência nos trabalhos da PGB, então sob o seu controle.   


No entanto, o estrago nas finanças públicas teriam produção dupla. Além do procurador, a sua esposa, a também advogada Adriane Cláudia Moreira Novaes, “assina” a perda milionária sofrida pelo município.  


A PGB teve problemas com Adriane, que foi procuradora-geral de 13/ 01/ 2017 a 29/ 03/ 2018. Face a irregularidades, ela caiu e em agosto de 2018, Roberto Novaes subiu ao cargo. Sua missão era “arrumar” a situação herdada da antecessora. Porém, com ele o cenário de caos deixado pela esposa foi multiplicado.  


O MP torpedea essa “transição”: a responsabilidade de Adriane e Roberto no exercício das funções de Procurador-Geral do Município é inafastável, pois eles agiram de forma desidiosa e ineficiente como gestores da Procuradoria Jurídica Municipal, ao deixarem de se manifestar e de realizar a distribuição dos feitos aos demais Procuradores Municipais de milhares de execuções fiscais, dando ensejo à extinção dos processos por abandono e causando prejuízo de elevada monta ao erário municipal que deixou de receber os créditos tributários.


Junto ao pedido de exoneração de Roberto Novaes, o MP intenciona que a relação do casal à frente da PGB não fique impune. Para isso, o Ministério Público pede que a Justiça faça com que os dois devolvam o que teriam produzido de danos ao município, ressarcindo à cidade os valores solapados.



Trecho da ação endereçada à Justiça pelo MP

A devolução seria possível mediante a indisponibilidade de bens de Adriane e Roberto Novaes até o valor de R$ 17.245.887,67, que corresponde à sangria nos cofres públicos. Ainda para “voltar” o dinheiro da cidade é pedida a indisponibilidade dos bens imóveis, impedimento da transferência do registro de veículos em nome dos réus, mais o bloqueio dos valores existentes em contas correntes, poupanças e aplicações financeiras do casal.   


Diante da gravidade do caso, o MP entende ser melhor defenestrar o casal da vida pública-administrativa da cidade, para que eles não venham a praticar outros males ao município. 


Em função disso, o Ministério Público faz dois pedidos ao prefeito de Bertioga: exonerar, em definitivo, Roberto Novaes e não nomear nem ele e nem a esposa a nenhum cargo comissionado, uma vez que demonstraram incapacidade para exercer as atribuições do referido cargo. 


O MP endurece a posição enfatizando que se o prefeito desobedecer a ordem fica sob risco de pagar uma multa diária no valor de R$ 100 mil. A nomeação do procurador-geral é feita pelo Executivo bertioguense. 



Justiça decide manter procurador afastado do cargo



Judiciário trabalha no que seria um escândalo sem precedentes na história da advocacia local


Houve divergência entre o MP e o Judiciário sobre o caso, com a Justiça decidindo pela não exoneração de Roberto Novaes, mas manteve a continuidade do afastamento dele, que agora fica sem direito à remuneração.


Lembrando que Novaes já cumpria afastamento desde novembro de 2023. A Justiça também descartou o pedido de indisponibilidade de bens do casal. Seguem trechos da decisão assinada pelo juiz Arthur Abbade Tronco.  


“o corréu Roberto deixa de ser Procurador-Geral, perdendo as prerrogativas correspondentes (inclusive salariais), sem prejuízo da atuação ordinária como agente público, com as atribuições compatíveis com seu cargo concursado.


E continua. “Lado outro, reputo não ser caso de, neste momento, decretar a indisponibilidade dos bens dos demandados. Trata-se de medida severa, que não se mostra cabível à luz dos elementos indiciários e de prova até agora presentes aos autos”. 


O magistrado pondera. “Faz-se necessário, nesse ponto, aguardar o contraditório prévio (regra geral do nosso ordenamento) e a instrução probatória, a fim de confirmar (ou não) a presença dos pressupostos para responsabilização pelo prejuízo material. Por tais motivos, rejeito o pleito inicial nesse particular.


Por fim ele reitera. “Ante todo o exposto, defiro em parte a tutela provisória requerida, para determinar o afastamento de Roberto Esteves Martins Novaes do cargo de Procurador-Geral do Município de Bertioga até decisão em sentido contrário, com suspensão do pagamento das verbas remuneratórias correspondentes a essa função”.


Vergonha alheia


Dentro do universo advocatício de Bertioga a situação do casal repercute negativamente junto à classe dos advogados, onde alguns profissionais forenses fazem comentários reservados acerca do episódio, de forma a não ampliar o caso já pontuado como um escândalo sem precedente na história da advocacia bertioguense. 


A somatória de atuações desastrosas da safra recente de procuradores-gerais constrange os profissionais que acreditam que a legalidade é um dos princípios fundamentais do Direito Administrativo. Ela protege os cidadãos de abusos de poder, e quando é inobservada a sociedade paga um preço alto.


O site contatou a Prefeitura de Bertioga para se posicionar sobre o caso. A reportagem será atualizada quando a Administração Municipal se manifestar.


sábado, 26 de outubro de 2024

Mães em Luto vão falar sobre terrorismo de estado em Florianópolis (SC)

A violência de agentes públicos, endossada por governos, é abordada e denunciada por familiares de vítimas

Da redação



Moradores em protesto contra violenta operação da PM na Baixada Santista que resultou em centenas de mortos Foto: Gabriela Moncau 

O movimento Mães em Luto da Zona Leste, São Paulo (SP), se prepara para a oitava edição do Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado, previsto para acontecer em maio de 2025, em Florianópolis (SC). 


Para isso, o “Mães em Luto” pede que interessados em ajudar colaborem com qualquer quantia por meio da vaquinha online que pode ser acessada bastando clicar em Mães em Luto da Leste no VIII Encontro Nacional


Os encontros são realizados anualmente e já aconteceram em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, Ceará, Espírito Santo, Pernambuco e o próximo será em Florianópolis.


Do encontro realizado este ano em Pernambuco saiu a pauta de demandas que contam na Carta Política da Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo. 


O documento é assinado por mais de 50 entidades ligadas a movimentos de direitos humanos e conta com amplo apoio de institutos que têm os mesmos propósitos. A atenção para o tema da violência estatal é endossada em reportagem como a trazidas em Violência matou mais de 15 mil jovens no Brasil em três anos



Em todo o país a cada morte de parentes familias protestam - Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo

Pautas da Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo

Sobre MEMÓRIA E JUSTIÇA 

Pela criação da Semana Estadual de Luta das Mães e Familiares Vítimas da Violência do Estado. Demandamos, tendo como referência o Projeto de Lei 1789/2016 do Estado de São Paulo, a criação em âmbito nacional, onde já não haja, da Semana Estadual de Luta das Mães e Familiares Vítimas da Violência do Estado, no mês de maio, conforme criação similar nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. 

Pelo amparo e proteção às famílias denunciantes. Recomendamos a implementação da Resolução 386-CNJ/2022, que defende a criação de organismos específicos para o atendimento às vítimas desde a ocorrência até as audiências e julgamentos, nos Centros Especializados de Atenção às Vítimas, em todos os estados. Recomendamos ainda o fortalecimento das Controladorias Gerais de Disciplina - CGDs, de Órgãos de Segurança. Bem como o fortalecimento de recursos públicos de programas de proteção a defensoras e defensores de direitos humanos, e de proteção às vítimas e testemunhas. 

Pela diligência nos processos judiciais nas demandas de indenização, reparação e responsabilização de agentes do Estado. Recomendamos que os Tribunais de Justiça de todo o país priorizem os processos judiciais referentes a casos envolvendo violências praticadas por agentes do Estado, e que seja garantido o direito dos familiares às informações processuais. 

Pela implementação de perícia autônoma e independente das Secretarias de Segurança do Estado e das forças policiais

Pela criação de um Fundo Estadual de Reparação Econômica, Psíquica e Social que atenda familiares e sobreviventes da violência do Estado em todo o país. Recomendamos, com base no Projeto de Lei 3503/04 que tramita na Câmara Federal, a criação de um Grupo de Trabalho nas Assembleias Legislativas voltado à elaboração e instauração de um Fundo Estadual de Reparação Econômica, Psíquica e Social. 

Sobre o SISTEMA SOCIOEDUCATIVO 

Pela não militarização das Unidades de Internamento. Recomendamos que agentes socioeducativos sejam vinculados/as às secretarias estaduais de Educação, não tendo quaisquer vínculos com órgãos das forças de segurança. 

Pelo acesso das famílias à Assistência Social. Recomendamos uma campanha a nível nacional para o fortalecimento da assistência, com vistas ao acolhimento das

famílias e adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. 

Pela implementação do sistema de videomonitoramento de agentes do sistema socioeducativo e que a família tenha acesso irrestrito às informações sobre as condições de vida de seus filhos e filhas. Demandamos que as famílias sejam informadas sobre os direitos dos/as adolescentes e do que se passa dentro das Unidades, tendo em vista que os familiares têm esse direito frequentemente negado. Além disso, solicitamos que, quando em liberdade assistida, as famílias e adolescentes sejam devidamente acompanhados/as pelos Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e que haja disponibilização das imagens a qualquer momento quando solicitado pelos familiares. 

Pela criação de comitês e mecanismos de combate e prevenção à tortura em todos os estados da federação: contra toda forma de tortura dentro das Unidades. Reafirmamos que o Brasil é signatário da Convenção Contra a Tortura que traz para o país compromissos e obrigações internacionais quanto ao combate e prevenção à tortura dentro dos espaços de privação de liberdade. 

Pelo Garantia do Direito à Educação. Recomendamos, em atenção ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que o Ministério da Educação garanta e monitore a frequência escolar de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. Recomendamos ainda a realização de campanhas a nível nacional para informar sobre o direito desses jovens à Educação de qualidade. 

Pela participação social dentro dos espaços de privação de liberdade. Reivindicamos que os órgãos públicos e entidades da sociedade civil voltadas ao monitoramento do Sistema Socioeducativo nos estados (como mecanismo estadual de prevenção e combate à tortura, as promotorias com atribuição de fiscalização das medidas socioeducativas, defensorias públicas, os GMFs, centros de defesa de direitos humanos de crianças e adolescentes, ONGs, conselhos da criança e do adolescente, conselhos de direitos humanos, entre outros) possam acompanhar mais de perto o cotidiano dos espaços de privação de liberdade. 

Pelo não-cumprimento de medidas socioeducativas em Unidades superlotadas e/ou em Unidades distantes do domicílio familiar impedindo o convívio com a família. Destacamos que a Central de Vagas tem sido implementada de maneira equivocada, servindo o propósito oposto pelo qual foi concebida. Considerando que as unidades seguem operando quase no limite da superlotação, os/as adolescentes são enviados para cumprir medida longe do domicílio e perdem o convívio familiar. Algumas famílias, mesmo que precariamente, conseguem visitar, outras já não estão conseguindo. Nossa escolha não deve ser entre a falta de convívio familiar e unidades superlotadas: existem outras medidas socioeducativas que não perpassam a privação de liberdade. 

Pela garantia de direitos para os/as adolescentes que cumprem medida de internação. Afirmamos que adolescentes não devem ter o acesso a direitos básicos restringido por estarem cumprindo medida de internação. 

Pela garantia legal da exclusividade de agentes socioeducativas mulheres nas unidades femininas. Demandamos que as Assembleias Legislativas dos estados garantam a exclusividade de servidoras mulheres nas unidades socioeducativas

femininas. É fundamental que Governadores/as encaminhem projetos de lei estaduais que garantam a integridade física, psíquica e social das adolescentes internadas. 

Sobre o SISTEMA PRISIONAL 

Pela implementação do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, nos termos do OPCAT, garantindo a participação popular, em especial de familiares de vítimas de terrorismo de Estado. 

Pela garantia irrestrita do Marco da Primeira Infância. Afirmamos a urgência do respeito ao Marco da Primeira Infância, garantindo que a pena não seja estendida para crianças e bebês. Que seja cumprido o Habeas Corpus coletivo do STF para todas as mulheres grávidas e mães; garantindo que crianças menores de 12 anos e/ou com deficiência, tenham assegurado o direito a serem cuidadas por suas mães, em casa. 

Pela prevenção e combate à tortura. Reivindicamos que os órgãos públicos e entidades da sociedade civil voltadas ao monitoramento do Sistema Prisional nos estados tenha sua atribuição de monitoramento garantida. Recomendamos ampliar o diálogo com o Conselho Nacional de Justiça, de modo a estimular a maior frequência em suas missões de monitoramento nos Sistemas Prisionais estaduais. 

Pela redução de orçamento para segurança pública e pelo aumento de investimento em políticas sociais. Demandamos menos investimento nas políticas públicas de segurança, compreendendo que a destinação de verba para a construção de unidades prisionais e a compra de armamento não resolve o problema da segurança pública. Precisamos de mais escolas, unidades de saúde, dentre outras políticas públicas que promovam a vida. 

Pela realização de mutirões carcerários em todo o Brasil. Demandamos que os Tribunais de Justiça, as Promotorias e as Defensorias Públicas dos estados realizem mutirões para analisar a situação processual das pessoas privadas de liberdade, garantindo o direito à liberdade e/ou à progressão de regime. 

Pelo fortalecimento e criação de Corregedorias externas e independentes à Secretaria de Administração Penitenciária. Demandamos que as Corregedorias externas tenham orçamento, autonomia funcional e não sejam ocupadas por servidores da carreira. 

Pela garantia da presencialidade no funcionamento da Defensoria Pública, em especial nos atendimentos ao público e audiências. Recomendamos ao Conselho Nacional dos Defensores Públicos para que se faça uma resolução determinando pela presencialidade no trabalho de defensores públicos, em especial, no que diz respeito ao atendimento às pessoas assistidas e nas audiências em todas as instâncias. 

Pela nacionalização da contagem de pena em dobro nos casos de cumprimento

de pena em unidades insalubres. Demandamos ao Conselho Nacional de Justiça e às Defensorias Públicas Estaduais que garantam a implementação da contagem de pena em dobro em relação ao cumprimento de pena em todas as unidades insalubres, expandindo o entendimento da Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos na Medida Provisória sobre a Unidade Prisional Plácido de Sá Carvalho localizada no estado do Rio de Janeiro. 

Pelo respeito aos direitos da população LGBTQIA+ nos espaços de privação de liberdade. 

Pela garantia dos direitos dos familiares das pessoas privadas de liberdade. Demandamos aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (Governadores dos estados, Secretários de Administração Penitenciária, aos Agentes das Forças de Segurança, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, Juízes, Procuradores Gerais de Justiça, Defensores Públicos Gerais, Presidentes de Assembleias Legislativas, Prefeitos e Vereadores) respeito aos direitos de familiares de pessoas privadas de liberdade, nos termos da Lei de Execuções Penais, das demais normativas nacionais e internacionais. 

Pela eliminação dos exames criminológicos. Superar a ideia de periculosidade que incide de forma desproporcional sobre jovens negros de perfiferia dentro do sistema prisional. Tendo assim, efeito potencial para a diminuição da população carcerária e redução da ação violenta da polícia. 

Sobre ASSISTÊNCIA EM SAÚDE 

Pela criação do Centro/Núcleo de Apoio Psicossocial para Familiares de Vítimas do Estado. Recomendamos ao Ministério da Saúde a elaboração de um programa para assistencia integral psicossocial a familiares e sobreviventes da violência do Estado nos equipamentos de saúde existentes em cada território, contando com o fornecimento adequado de medicamentos descritos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME)/Ministério da Saúde. Recomendamos ainda que o Ministério faça campanhas de conscientização para que todos e todas saibam do direito ao acesso e esses medicamentos. É também fundamental o fortalecimento de instituições como CAPS, CAPSi e CAPSAD com atendimento por psicólogos, psiquiatras e terapias alternativas.Reforçamos a importância de uma assistência que não incentive o uso abusivo de medicamentos psicotrópicos. 

Pelo Direito à Saúde e à Vida. Reforçamos a importância do acompanhamento por equipes de saúde multidisciplinar durante todo o cumprimento das medidas socioeducativas, reiterando a visão ampliada de saúde baseada na Política Nacional de Saúde Mental e na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei (PNAISARI). 

Pela garantia do direito ao acesso à saúde pelas pessoas privadas de liberdade. Reivindicamos o direito de presos e presas acessarem de forma integral as políticas de saúde que preconizam assistência por Equipes Básicas Prisionais dentro das unidades e que sejam transferidos para unidades externas de acordo com o nível de complexidade de seus casos. Em consonância com os artigos 14 e 120 da Lei de

Execução Penal (LEP), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), instituída pela portaria interministerial nº 1 de 02 de Janeiro de 2014. 

Pelo fim da medicalização e prescrição excessiva de psicotrópicos, superando a lógica do tratamento medicamentoso como o único modo possível de tratamento em saúde mental no cárcere. Recomendamos a publicização para os familiares dos receituários médicos prescritos para as pessoas privadas de liberdade e a criação de protocolos humanizados nos Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Pernambuco (HCTP-PE). 

Sobre SEGURANÇA PÚBLICA 

Pelo monitoramento das forças policiais pela sociedade civil. Recomendamos a instalação de câmeras nas viaturas e nos uniformes de agentes de segurança pública e do Sistema Prisional durante todo o expediente de trabalho. Reiteramos ainda a importância da manutenção do uso da identificação nominal (nome bordado no uniforme) desses/as agentes em serviço. 

Pelo controle externo da atividade policial: Acorda, MP! Requeremos que os Ministérios Públicos do Brasil orientem os promotores de promotorias de investigação penal e de forças tarefa com tal atribuição, a solicitar o afastamento imediato do/s agente/s das unidades socioeducativas, quando houver casos de violência ou indícios de tortura, colocando-os em ofício administrativo, sem convívio algum com o/as adolescentes, até que terminem as investigações, conforme a resolução no 279 do Conselho Nacional do Ministério Público. 

Pela não militarização das Unidades de Internamento. Recomendamos que agentes socioeducativos sejam vinculados, exclusivamente, às secretarias estaduais de Educação, não tendo quaisquer vínculos com órgãos e equipamentos que respondam diretamente às políticas de segurança pública. 

Pela extinção das gratificações e bonificações por prisões e apreensão de drogas. Recomendamos que sejam emendadas ou extintas as legislações, decretos e regimentos que propõem a gratificação e/ou bonificação pelo alto índice de prisão de pessoas e apreensão de drogas pelos agentes de segurança pública, seja ela de qualquer virtude (bonificação financeira, reconhecimento institucional, etc); estimulando também a criação de metas para a redução de letalidade policial em virtude de operações para prisão e repressão ao tráfico de drogas. 

Pelo Desinvestimento das Forças Policiais e Militares. Recomendamos o desinvestimento das forças policiais, militares, e das políticas de segurança pública, compreendendo o alto investimento dos estados. 

Pela garantia da participação de movimentos sociais e entidades sociais nos Comitês Estaduais de Prevenção e Combate à Tortura. Recomendamos que seja priorizada a participação de movimentos e entidades sociais que mesmo sem CNPJ, tenham comprovada atuação de ao menos dois anos em pautas vinculadas às questões de privação de liberdade para conselheiros de Comitês Estaduais de Prevenção e Combate à Tortura.