Pular para o conteúdo principal

Bertioguenses pagam o dobro para “sustentar” a Câmara de Vereadores

“O produto da arrecadação local deveria instrumentar e necessariamente ter como foco o custeio das necessidades da população”, afirma promotora do MPC

Segundo o MPC, Câmara investi em causa própria

A Câmara de Bertioga é a mais dispendiosa dentre os 14 legislativos de cidades paulistas com população entre 60 e 70 mil habitantes. A constatação é de um levantamento da 2ª Procuradoria de Contas feito a partir de dados do Mapa das Câmaras de 2022 do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP)  


Bertioga conta com pouco mais de 64 mil habitantes e o seu legislativo é formado por 9 vereadores. No exercício de 2022, a Câmara bertioguense despendeu com pessoal e custeio próprio a quantia de R$ 13.711.489,77. Esse valor é 2,5 vezes superior à mediana apurada de R$ 5.268.839,50 desembolsada pelos municípios congêneres.


As cidades de Monte Mor e Tupã, por exemplo, com 15 vereadores cada uma, utilizaram individualmente cerca de R$ 7,4 milhões para a manutenção de suas câmaras legislativas. 


Enquanto a maioria dos municípios daquela faixa populacional obteve em 2022 uma despesa per capita de menos de R$ 100 para o custeio das Câmaras Municipais, cada cidadão de Bertioga pagou em média R$ 213,00 para o sustento do legislativo bertioguense. 


“Tais números jogam luz na disparidade de gastos empreendidos pela Edilidade em comparação às congêneres de características semelhantes. Não se desconhece a expressividade da receita própria municipal (R$ 370.605.732,97 em 2022), contudo tal folga fiscal não deveria servir de pretexto para superlativos gastos camarários. Afinal, o produto da arrecadação local deveria instrumental e necessariamente ter como foco o custeio das necessidades da população municipal”, ponderou a Procuradora de Contas Dra. Élida Graziane Pinto.


A representante ministerial também criticou a prática reiterada de majoração orçamentária realizada pelo Legislativo local, o que vem “propiciando uma excessiva alocação de recursos financeiros para custeio das atividades camarárias”.


No exercício em análise, aquela Câmara Municipal recebeu a título de duodécimos a soma de R$ 20.300.000,00, da qual foram devolvidos R$ 4.179.506,90 no final do ano, correspondendo a mais de 20% do total recebido.


 “Ainda que o excedente alocativo da Câmara seja restituído ao Executivo ao final do exercício, tal prática ocorre de forma intempestiva e revela, repise-se, um elevado custo de oportunidade, que compromete a execução das políticas públicas ordinárias de interesse da coletividade, frustrando o dever de ‘efetiva entrega de bens e serviços à sociedade’ de que trata o parágrafo 10 do artigo 165 da Constituição de 1988”, alertou a titular da 2ª Procuradoria do MPC-SP.


Para ela, “é ineficiente e ilegítimo o círculo vicioso em que o Legislativo entesoura recursos municipais escassos, para somente devolvê-los no final do exercício financeiro, enquanto diversas políticas públicas locais restam comprometidas em seu custeio cotidiano”.


Por fim, a Procuradora ressaltou que o superdimensionamento orçamentário traz, ainda que de modo equivocado, “a expectativa quanto à abundância de recursos disponíveis, redundando em graves distorções na composição do quadro de pessoal e com reflexos diretos na política remuneratória dos servidores”.


Sobre tal consideração, é preciso destacar que a Câmara Municipal de Bertioga, a despeito do colegiado de apenas 9 vereadores, dispunha em seu quadro 18 servidores efetivos e outros 33 ocupantes de cargos de livre provimento para a realização de tarefas cotidianas, isto é, mais de 3 cargos de confiança por parlamentar.  


Fonte: Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Expulsos pelo DER e abandonados pela Prefeitura de Bertioga

Famílias que vivem em Bertioga muito antes dela ser cidade são despejadas sem o menor respeito aos caiçaras   Por Aristide Barros Moradores estão à espera de soluções Ao menos cinco famílias, totalizando cerca de 13 pessoas - entre elas homens, mulheres, crianças e idosos, alguns deles com problemas de saúde em razão da idade avançada - lutam pelo direito a ter onde morar.  A luta é contra a Prefeitura de Bertioga e começou quando o Departamento de Estrada de Rodagem de São Paulo (DER) via reintegração de posse desabrigou as famílias que moravam (pasmem) embaixo de uma ponte na Rodovia Rio-Santos, que passa sobre o Rio Guaratuba.  O órgão estatal as tirou do local no dia 16 de setembro deste ano e a administração municipal bertioguense “dorme tranquila” sem dar nenhuma resposta sobre onde elas vão poder morar.  Diante da impotência das duas esferas de governo - estado e município - em oferecer o que tiraram delas: um local digno para viver, tão logo foram despej...

Bertioga não tem uma boa educação

Educação não se mede pelo IDEB  Por Claudemir Belintane (*) Professor universitário faz alerta para comunidade estudantil - Foto: Tânia Rego  / Agência Brasil Nas eleições municipais deste ano, muitos prefeitos afirmavam que em suas gestões a educação teria avançado bastante e citavam o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do Município, que teria alcançado ou superado a meta prevista. Infelizmente o povo e às vezes até mesmo educadores não entendem que o IDEB é um índice geral muito precário e que não serve para indicar avanços qualitativos no panorama nacional, estadual ou regional da educação. Além de não servir como parâmetro e avanços nem em Língua Portuguesa, nem em Matemática, o IDEB é também muito fácil de ser fraudado ou mesmo manipulado. Então, como nós, cidadãos, podemos saber se uma rede escolar ou a educação de um município vai bem? O teste é simples e objetivo, você mesmo pode fazer. Vamos lá!? Tomemos como exemplo o município de Bertioga e vejamos ...

Sancler: “primeiro o vereador tem de se fiscalizar para depois fiscalizar o prefeito”

O pré-candidato defende um Legislativo atento às próprias ações para ter condições morais de exercer o poder fiscalizador sobre o Executivo Por Aristides Barros Para Sancler ações da Câmara "espelham" a prefeitura Pessoas honestas cobram honestidade. Esse é o entendimento do pré-candidato a vereador Benedito Sancler Teles dos Santos (PT), o Sancler, sobre o que ele acredita ser determinante para uma relação saudável entre Legislativo e Executivo, com a positividade dela gerando bons trabalhos para a cidade.  “Bertioga e a sua população deveriam ser os maiores beneficiados pelas ações da Câmara e da prefeitura, ser o alvo principal de tudo o que for pretendido pelos vereadores e prefeito. Não tem sido assim, a cidade carece de políticas públicas e a falta delas penaliza ainda mais as pessoas e as famílias em condições de vulnerabilidade”, afirma o petista.  “Então, a gente precisa construir políticas públicas, ouvir o povo, levar as necessidades dele ao prefeito, que é a pesso...