quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Daiara Tukano denuncia violência contra povos indígenas no Mato Grosso

"Os índios não terão um centímetro de terra": uma das falas do presidente de extrema-direita começa a se cumprir

Protesto contra governo Bolsonaro (Carl de Souza / AFP)

Um pedido de solidariedade aos povos indígenas partido da ativista Daiara Tukano e veiculado nas redes sociais, ações de invasão de terras indígenas por madeireiros - como ocorreu no início deste ano no Pará - o esvaziamento da Funai, e outras séries de itens negativos apresentados nesse início do governo de extrema direita do presidente Jair Bolsonaro (PSL), mostram que a vida da população indígena do Brasil está seriamente ameaçada.


A RCN tentou, sem sucesso, um contato com Daiara Tukano para saber se o vídeo é recente, ou não. Mas, a reportagem que segue - é datada de janeiro deste ano - ressalta uma fala de Bolsonaro, que ainda candidato à Presidência da República  afirmava que "em seu governo índio não teria um centímetro de terra". 


Mal tomou posse e uma série de ações contra a população indígena ganha espaço tímido na mídia. Entre elas a ocorrida no Pará, onde a Terra Indígena Arara está sendo invadida por madeireiros, conforme denúncia do MPF (Ministério Público Federal). 


Já no dia 4 de janeiro, o MPF pediu para a PF (Polícia Federal) acompanhar as denúncias de invasão de madeireiros na Terra Indígena, localizada entre Uruará e Medicilândia, no sudoeste do Pará.


Na reserva vivem cerca de 290 indígenas sendo uma das localidades atingidas pela construção da usina de Belo Monte, em Altamira, e é, conforme o MPF, uma das áreas indígenas mais desmatadas devido a extração ilegal de madeira. 


O MPF informa a existência de duas ações na Justiça Federal pedindo a criação de um sistema de vigilância para a área. Pois, a construção da usina previa o aumento de casos de extração ilegal de madeira. A medida condicionada a realização da obra não foi cumprida. 


A Funai disse que os madeireiros estão no local desde o dia 30 de dezembro. Segundo as denúncias, os invasores estariam loteando terrenos. A Funai informou que monitora a situação e que notificou a PF, Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e MPF sobre os riscos da invasão.


Por sua vez, o Ibama disse que vai articular atuação para coibir a ação ilegal na área em conjunto com a Funai, MPF e PF.


O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) informou que desde novembro de 2018, os índios denunciam a violação dos seus territórios na região do Xingu para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. 


TERRA INDÍGENA


A Terra Indígena Arara engloba os municípios de Altamira, Brasil Novo, Medicilândia e Uruará. A área tem 274.010 hectares e abriga 298 indígenas. Segundo a Funai, o local teve os limites homologados pelo Decreto nº399, de 24 de dezembro de 1991.


Em 2017, uma operação do  Ibama, PF e Funai investigou denúncias de invasão na reserva, o que resultou no embargo de uma serraria e na apreensão de cerca de 150 metros cúbicos de madeira em Uruará e Medicilândia. 


Em 2018, grupo de indígenas da etnia Parakanã bloqueou a rodovia Transamazônica cobrando a retirada de invasores das terras Apyterewa em Altamira. O grupo denunciou crimes ambientais na área.


Na época, indígenas de dez aldeias procuraram a Justiça Federal em Altamira, sudoeste do Pará, para cobrar a retirada de invasores das terras Apyterêua.


CONFRONTO 


Índios da etnia Arara temem o confronto com posseiros e madeireiros que invadiram a terra indígena para a extração ilegal de madeira.  


Uma equipe da Coordenadoria Regional da Funai acompanha desde o dia  3 de janeiro a situação do local para tentar evitar o confronto entre os índios e posseiros. 


"A gente está preocupado, né. Agora a gente está esperando os órgãos para ver como vai ficar. Mas, enquanto eles não tomarem providência, a gente vai ver o que a gente pode fazer”, disse o indígena Turu Arara.


MATO GROSSO


A situação apresentada pela ativista Daiara Tukano é tensa no Mato Grosso conforme levantamento realizado pelo Conselho Indigenista e Missionário apontando que em 2017 no estado foram registrada oito invasões de terras indígenas caracterizados como violênica contra o patrimônio. 


O relatório "Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil" é publicado anualmente pelo Cimi e, no Estado, apontou denúncias de invasões nas terras indígenas Capoto, Sangradouro, Nambikwara, Panará do Arauató, Apiaká-Kayabi, Parque indígena do Xingu, Kawahiva do Rio Pardo e Kanela.


De acordo com o relatório, as terras citadas são as poucas que ainda contam com recursos naturais e mata, tornando-se alvo de pessoas ligadas a exploração madeireira, hídrica e plantio de soja.


Em 2017, foram registrados em todo o país 96 casos de invasões, danos ao patrimônio e exploração ilegal de recursos naturais, conforme a publicação.


Os casos mais citados foram de invasões, desmatamento, destruição de patrimônio, contaminação de rio e por agrotóxico, queimadas e incêndios.



   
 

sábado, 5 de janeiro de 2019

Casa dos Poetas Fantasmas

Melancólicos imortais, ocasionalmente lembrados na mórbida data de seus falecimentos. Vida insólita 

 

Os cômodos carcomidos e o porão cinzento, lamentavelmente, a tudo lembravam abandono. Era a casa dos poetas, com seus resquícios de alucinações e sonhos frívolos trancados em quartos empoeirados, presos a sete chaves, todas elas enferrujadas. 


A mobília dava o tom tortuoso aos poemas que lhes nasciam dos corações, lhes arrebatavam a cabeça até o ilimitável. O inacabável que se esvai na cadência rebelde de uma letra triste, solitária e seguida de um ponto final. 


Isso é o que fazem os poetas que vivem para sempre. Seres imortais. Inatingíveis e inabaláveis, que se deixam abalar ao simples e leve toque da vida. Amor! 


Melancólicos imortais, ocasionalmente lembrados na mórbida data de seus falecimentos. Vida insólita! 


Apesar das cores mortas, algo ali ainda mantinha gosto e cor de vida. A casa guardava histórias suspensas nas paredes, quadros com semblantes pálidos e olhos inquisidores. Arregalados, mergulhavam em um passado profundo, e submergiam apenas para lembrar que um dia existiram. 


Olhando-os pendurados nas molduras amarelas poderia se dizer que os seus dias não foram bons, que deles sequer nasceria um conto. 

Mais! Que o pouco a ser escrito sobre a galeria bucólica daria nada menos que uma frase infinitamente pequena, um rabisco que soaria a um gemido agônico. 


As cortinas esvoaçantes acenavam o adeus latente de corações desesperados, devastados por paixões avassaladoras. 

“O amor é uma montanha íngreme e todos a escalam. Anjos caídos”. 


Ao ver aquele espaço rústico, diria o poeta, ao abandono da própria lucidez, que as vidas que um dia ali existiram foram felizes, e agora penam a sombra de espectros assustados por lembranças, que lançam no ar a misteriosa fragrância de encantos passados.


A casa vazia está lá. No seu entorno, alguns restos de memórias estacadas formam uma cerca de vultos, que impedem qualquer um de entrar para que não seja descoberto o esconderijo dos poetas penitentes, e de toda a sua legião de fantasmas. 


É tudo muito doce e impecavelmente imoral!